segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Reflexão para o dia da Sagrada Família

2014-12-29 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

O perdão dos pecados acontece por causa de uma atitude de amor para com os pais, pois o lar, Igreja doméstica, voltou a ser o local do encontro com Deus.
A misericórdia em todos os relacionamentos, mas especialmente para com os pais, está em referência ao próprio Deus que é o Pai por excelência. Portanto, honrar os pais, respeitá-los, é prestar culto a Deus.

Tanto a primeira leitura quanto a segunda, da liturgia de hoje, não escondem as falhas no relacionamento familiar e humano, mas nos dizem que o importante aos olhos de Deus não está em ser sem defeitos, em ter uma família perfeita, mas sim na capacidade de amar sem medidas, apesar dos limites e das falhas pessoais. Claro que Deus deseja que sejamos perfeitos, mas mais importante para Ele é que nos amemos e nos perdoemos como Ele nos amou e nos perdoou, sem limites, sem restrições.

Dentro desse pensamento sobre o relacionamento familiar, será importante refletir sobre a realidade da família deste início de século, onde e como vive. Certamente a maioria mora em grandes centros urbanos e é constituída pelo casal e por um ou dois filhos. Um terceiro já faz considerá-la família numerosa.

Também a mãe trabalha fora e pais e filhos se encontram à noite, cansados, muitas vezes diante da televisão, ou durante o jantar. Se isso acontece já poderão se classificar felizes, pois em outros lares, muitas vezes quando pais saem para o trabalho, os filhos ainda dormem e quando voltam eles já estão deitados. O encontro, nesse caso, só se dá no final de semana.

Rezar juntos, passar para os filhos a vivência de uma oração em família, mesmo que seja apenas à mesa, só excepcionalmente, pois em muitos casos, para que possam descansar, não cozinham em casa e vão comer fora, em um restaurante ou na casa de parentes ou de amigos.

É difícil passar valores, enfim, formar os filhos. A sociedade pós moderna penetra em suas entranhas e é muito custoso prepará-los para o futuro, para que sejam filhos e irmãos como Deus quer. Só com a graça divina e com a disposição dos pais para uma autêntica renúncia e sacrifico.

Renúncia aos apelos de dar aos filhos tudo o que a sociedade consumista coloca como valores e que os pais enxergam como coisa boa e vantajosa. É preciso renunciar fazer do filho ou da filha pessoas como nos pede o elitismo, relativizar seus códigos. É preciso questionar os valores propostos por ela e crer nos do Evangelho.

Cabe a pergunta: formo minha família para ser cidadã deste mundo ou para ser cidadã do Reino de Deus, mas neste mundo? Jesus rezou ao Pai dizendo que não queria que nos tirasse do mundo, mas nos preservasse do mal.

Sacrifício: sacrificar significa tornar sagrado. Meu filho, minha filha, são do mundo ou de Deus? O batismo os retirou do paganismo e os fez filhos de Deus, sagrados. Respeito a senhoria de Deus sobre eles ou sou conivente com as solicitações consumistas e mundanas?

A imagem da Família de Nazaré como família migrante e pobre nos obriga a refazer a imagem da família atual, retornando às origens e aos valores, ou seja, a abundância de bens materiais não é necessária para ser feliz e amar a Deus e ao próximo.

É importantíssimo não só a simplicidade de vida, mas sobretudo é fundamental a convivência afetiva e efetiva, além do respeito aos idosos como gratidão e como referência à sua experiência de vida que porta sabedoria e os referenciais da autêntica tradição.

A Família de Nazaré nos ensina a cristianizar a família pós moderna, recolocando Deus no centro e n’Ele reencontrando a verdadeira felicidade.

(CAS)(from Vatican Radio)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Card. Hummes: "Natal é alegria, luz e esperança"

2014-12-25 Rádio Vaticana
São Paulo (RV) - A RV contatou o Cardeal Cláudio Hummes, Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, para os nossos votos de Natal, e Dom Cláudio enviou a nossos ouvintes e amigos do Facebook e do site, a sua mensagem natalina. Ouça-a clicando acima.
"Certamente estamos sempre cheios de esperança no fim de ano, quando as esperanças renascem. Sonhamos mais, os sonhos se renovam; o fim de ano faz renascer esperanças e sonhos, e fortalece o futuro. Creio que podemos fazer isso por muitas razões.

A maior razão é o nascimento de Jesus, a grande luz que volta sempre renovada a iluminar o nosso caminho, nos dar a certeza de que Ele está junto de nós e caminha conosco, como nosso querido Papa Francisco insiste sempre nos lembra: Deus está perto, caminha conosco e nos orienta, nos ilumina mesmo nos nossos desvios, fracassos e rebeldias. Ele docemente, com um Pai vai nos guiando. Esta é a grande esperança no Natal

Por isso, o Natal deve ser uma grande festa de alegria e é o que desejo a todos os que nos ouvem, a vocês também da Rádio Vaticano: que seja um momento de festa, apesar de tantas dificuldades, guerras e terrorismos que existem no mundo afora, e tanta gente sofrendo na pobreza. É um momento de alegria verdadeira e sadia; nos alegramos porque Deus vem e manifesta e nos faz experimentar a sua proximidade, seu amor de Pai, de irmão em Jesus Cristo.

Tem que ser uma festa de alegria: é o que Papa sempre diz, a Alegria do Evangelho, o Deus que nos dá alegria e nós a devemos irradiar ao mundo inteiro. Deus salva e nos ama e não nos quer perder, está sempre junto conosco.

Acho que deve ser também uma festa de misericórdia, em que assim como Deus se faz pobre entre os pobres para ser o consolo, a força e a esperança dos pobres; nós devemos, como cristãos, como seus discípulos e discípulas, junto com o Menino que nasce pobre, olhar para os pobres, nos aproximarmos deles e sermos a sua alegria, esperança e certeza, na fraternidade e solidariedade com eles.

Creio que estes são dois aspectos não podemos perder".

(CM)(from Vatican Radio)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Os presépios na Casa de Santa Marta- Ecologia e low cost



2014-12-23 L’Osservatore Romano

Galhos, madeira, ramos, musgos e rochas provenientes dos Jardins do Vaticano. Tintas laváveis e fonte com água corrente. Caracteriza-se pelo low cost e pela sustentabilidade ambiental o presépio montado no andar térreo da Casa de Santa Marta no Vaticano. Algumas dezenas de personagens – estátuas de madeira polícroma realizadas entre o fim de Oitocentos e o início de Novecentos – convergem numa ruína, um pórtico que as intempéries e o tempo estragaram. Sob um abrigo que mais parece de fortuna que uma casa encontraram asilo Maria, José e o Menino.



Alessandro Di Placidi, responsável pela manutenção da Casa, que montou o presépio, explica-nos que Jesus escolheu nascer num lugar em decadência, provisório, no qual falta tudo: só o tecto é garantido. Nas laterais um flautista e um pastor com a gaita dirigem-se para o pórtico seguidos por um rebanho de ovelhas, enquanto os outros personagens se preparam para receber o nascimento do Salvador. Atrás, de um lado, escorre a água de uma fonte.

Sente-se a harmonia que o autor do presépio quis imprimir em toda a cena. As luzes convidam a fixar o olhar no abrigo simples, e voltam à mente as palavras de um manuscrito de santa Teresa de Lisieux: «Na noite em que Jesus se fez débil e sofredor por amor a mim, Ele tornou-me forte e corajosa». O homem reconcilia-se com a criação, a criatura com o seu Criador. Também a natureza participa nesta festa. E a fragrância do musgo e das tintas que se misturam ao redor do presépio, revelando-se aos sentidos , exprimem esta participação.

Para o outro presépio montado no salão da Casa de Santa Marta, Pasquale Scognamiglio deixou-se inspirar por um quadro de 1815 do dinamarquês Christoffer Wilhelm Eckersberg, que representa a pequena torre redonda de Tor di Quinto em Roma. No fundo da paisagem rochosa surge uma torre circundada por três casas. À esquerda, numa varanda, vê-se uma dona de casa que estende um lençol branco. Ao redor, aquela que outrora era a zona rural romana, com o terreno levemente em declive, os arbustos, a vegetação espontânea. Encastoada neste cenário, a gruta na qual nasce Jesus. A obra foi oferecida ao Papa pela paróquia de Santa Domitila, de Latina.

O terceiro presépio montado este ano na Casa de Santa Marta está na antecâmara do apartamento do Papa Francisco. Trata-se de um dom oferecido pelo grupo «amigos do Presépio», de Monte Porzio Catone. É um diorama de escola romano-espanhola, sem construções, no qual encontra colocação a gruta. Foi preparado com a utilização de polistireno, gesso, juta e madeira, com luzes led. Foram escolhidas estátuas em resina provenientes de Montserrat, na Espanha, para representar a natividade. (nicola gori)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A íntegra do discurso de Francisco à Cúria Romana


2014-12-23 Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) - Publicamos abaixo o discurso integral proferido pelo Papa à Cúria Romana em 22 de dezembro de 2014.

“Tu estás acima dos querubins, tu que transformaste a miserável condição do mundo quando te fizeste como nós” (Santo Agostinho)

Amados irmãos,

Ao final do Advento, encontramo-nos para as tradicionais saudações. Dentro de alguns dias teremos a alegria de celebrar o Natal do Senhor; o evento de Deus que se faz homem para salvar os homens; a manifestação do amor de Deus que não se limita a dar-nos algo ou a enviar-nos uma mensagem ou alguns mensageiros, doa-se-nos a si mesmo; o mistério de Deus que toma sobre si a nossa condição humana e os nossos pecados para revelar-nos a sua Vida divina, a sua graça imensa e o seu perdão gratuito. É o encontro com Deus que nasce na pobreza da gruta de Belém para ensinar-nos a potência da humildade. Na realidade, o Natal è também a festa da  luz que não é acolhida pala gente “eleita”, mas pela gente pobre e simples que esperava a salvação do Senhor.

Em primeiro lugar, gostaria de desejar a todos vós – cooperadores, irmãos e irmãs, Representantes pontifícios disseminados pelo mundo – e a todos os vossos entes queridos um santo Natal e um feliz Ano Novo. Desejo agradecer-vos cordialmente, pelo vosso compromisso quotidiano a serviço da Santa Sé, da Igreja Católica, das Igrejas particulares e do Sucessor de Pedro.

Como somos pessoas e não números ou somente denominações, lembro de maneira especial os que, durante este ano, terminaram o seu serviço por terem chegado ao limite de idade ou por terem assumido outras funções ou ainda porque foram chamados à Casa do Pai. Também a todos eles e a seus familiares dirijo o meu pensamento e gratidão.

Desejo juntamente convosco erguer ao Senhor vivo e sentido agradecimento pelo ano que está a nos deixar, pelos acontecimentos vividos e por todo o bem que Ele quis generosamente realizar mediante o serviço da Santa Sé, pedindo-lhe humildemente perdão pelas faltas cometidas “por pensamentos, palavras, obras e omissões”

E partindo precisamente deste pedido de perdão, desejaria que este nosso encontro e as reflexões que partilharei convosco se tornassem, para todos nós, apoio e estímulo a um verdadeiro exame de consciência a fim de preparar o nosso coração ao Santo Natal.

Pensando neste nosso encontro veio-me à mente a imagem da Igreja como Corpo místico de Jesus Cristo. É uma expressão que, como explicou o Papa Pio XII “brota e como que germina do que é frequentemente exposto na Sagrada Escritura e nos Santos Padres”. A este respeito, São Paulo escreveu: “Porque, como o corpo è um todo tendo muitos membros e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo” (1 Cor 12,12).

Neste sentido, o Concílio Vaticano II lembra-nos que “na edificação do Corpo de Cristo há diversidade de membros e de funções. Um só è o Espírito que, para utilidade da Igreja, distribui seus vários dons segundo suas riquezas e as necessidades dos ministérios (cf. 1 Cor 12,1-11)”. Por isto “Cristo e a Igreja formam o «Cristo total» - Christus totus -. A Igreja é una com Cristo».

È belo pensar na Cúria Romana como sendo um pequeno modelo da Igreja, ou seja, um “corpo” que procura séria e cotidianamente ser mais vivo, mais sadio, mais harmonioso e mais unido em si mesmo e com Cristo.

Na realidade, a Cúria Romana é um corpo complexo, composto de muitos Dicastérios, Conselhos, Departamentos, Tribunais, Comissões e de numerosos elementos que não têm todos a mesma tarefa, mas são coordenados para um funcionamento eficaz, edificante, disciplinado e exemplar, não obstante as diversidades culturais, linguísticas e nacionais dos seus membros.

Em todo o caso, sendo a Cúria um corpo dinâmico, ela não pode viver sem alimentar-se e sem cuidar de si. De fato, a Cúria – como a Igreja – não pode viver sem ter uma ralação vital, pessoal, autêntica e sólida com Cristo. Um membro da Cúria que não se alimenta cotidianamente com aquele Alimento tornar-se-á um burocrata (um formalista, um funcionalista, um mero empregado): um ramo que seca e pouco a pouco morre e é lançado fora. A oração diária, a participação assídua nos Sacramentos, de modo especial, da Eucaristia e da reconciliação, o contato cotidiano com a palavra de Deus e a espiritualidade traduzida em caridade vivida são o alimento vital para cada um de nós. Que todos nós tenhamos bem claro que sem Ele nada poderemos fazer(cf Jo 15, 8).

Consequentemente, a relação viva com Deus alimenta e fortalece também a comunhão com os outros, ou seja, quanto mais estivermos intimamente unidos a Deus tanto mais estaremos unidos entre nós porque o Espírito de Deus une e o espírito do maligno divide.

A Cúria está chamada a melhorar-se, a melhorar-se sempre e a crescer em comunhão, santidade e sabedoria a fim de realizar plenamente a sua missão. No entanto, ela, como todo corpo, como todo corpo humano, está exposta também às doenças, ao mau funcionamento, à enfermidade. E aqui gostaria de mencionar algumas destas prováveis doenças, doenças curiais. São doenças mais costumeiras na nossa vida de Cúria. São doenças e tentações que enfraquecem o nosso serviço ao Senhor. Penso que nos ajudará o “catálogo” das doenças – nas pegadas dos Padres do deserto, que faziam aqueles catálogos – dos quais falamos hoje: ajudar-nos-á na nossa preparação ao Sacramento da Reconciliação, que será um passo importante de todos nós em preparação do Natal.

1. A doença do sentir-se “imortal”, “imune” ou até mesmo “indispensável” transcurando os controles necessários e habituais. Uma Cúria que não faz autocrítica, que não se atualiza, que não procura melhorar é um corpo enfermo. Uma visita ordinária aos cemitérios poderia ajudar-nos a ver os nomes de tantas pessoas, algumas das quais pensassem talvez que eram imortais, imunes e indispensáveis! É a doença do rico insensato do Evangelho que pensava viver eternamente (cf Lc 12, 13-21) e também daqueles que se transformam em senhores e se sentem superiores a todos e não a serviço de todos. Esta doença deriva muitas vezes da patologia do poder, do “complexo dos Eleitos”, do narcisismo que fixa apaixonadamente a sua imagem e não vê a imagem de Deus impressa na face dos outros, principalmente dos mais fracos e necessitados. O antídoto para esta epidemia è a graça de nos sentirmos pecadores e de dizer com todo o coração «Somos servos inúteis. Fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17, 10).

2. Outra doença:  doença do “martalismo” (que vem de Marta), da excessiva operosidade: ou seja, daqueles que mergulham no trabalho, descuidando, inevitavelmente, “a melhor parte”: sentar-se aos pés de Jesus (cf Lc 10,38-42). Por isto Jesus chamou os seus discípulos a “descansar um pouco’” (cf Mc 6,31) porque descuidar do descanso necessário leva ao estresse e à agitação. O tempo do descanso, para quem levou a termo a sua missão, é necessário, obrigatório e deve ser lavado a sério: no passar um pouco de tempo com os familiares e no respeitar as férias como momentos de recarga espiritual e física; é necessário aprender o que ensina o Coélet que «para tudo há um tempo» (3,1-15).

3. Há ainda a doença do “empedernimento” mental e espiritual, ou seja, daqueles que possuem um coração de pedra e são de “dura cerviz” (At 7,51-60); daqueles que, com o passar do tempo, perdem a serenidade interior, a vivacidade a audácia e escondem-se atrás das folhas de papel, tornando-se “máquinas de práticas” e não “homens de Deus” (cf Hb 3,12). É perigoso perder a sensibilidade humana necessária que nos faz chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram! É a doença dos que perdem “os sentimentos de Jesus ” (cf Fl 2,5-11) porque o seu coração, com o passar do tempo, endurece e torna-se incapaz de amar incondicionalmente ao Pai e o próximo (cf Mt 22,34-40). Ser cristão, com efeito, significa ter os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2,5), sentimentos de humildade e de doação, de desapego e de generosidade.

4. A doença do planejamento excessivo e do funcionalismo. Quando o apóstolo planeja tudo minuciosamente e pensa que, fazendo um perfeito planejamento, as coisas efetivamente progridem, tornando-se, assim, um contador ou um comercialista. Preparar tudo bem é necessário, mas sem jamais cair na tentação de querer encerrar e pilotar a liberdade do Espírito Santo, que é sempre maior, mais generosa do que todo planejamento humano (cf Jo 3,8). Cai-se nesta doença porque  «é sempre mais fácil e cômodo adaptar-se às suas posições estáticas e imutadas. Na realidade, a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo na medida em que não tem a pretensão de regulamentá-lo e de domesticá-lo… - domesticar o Espírito Santo! - … Ele è frescor, fantasia, novidade».

5. A doença da má coordenação. Quando os membros perdem a comunhão entre si e o corpo perde a sua funcionalidade harmoniosa e a sua temperança, tornando-se uma orquestra que produz barulho, porque os seus membros não cooperam e não vivem o espírito de comunhão e de equipe. Quando o pé diz ao braço: “não preciso de ti”, ou a mão à cabeça: “quem manda sou eu”, causando, assim, mal-estar ou escândalo.

6. Há também a doença do “Alzheimer espiritual”: ou seja, o esquecimento da “história da salvação”, da história pessoal com o Senhor, do «primeiro amor» (Ap 2,4). Trata-se de uma perda progressiva das faculdades espirituais que num intervalo mais ou menos longo de tempo causa graves deficiências à pessoa, tornando-a incapaz de exercer algumas atividades autônomas, vivendo num estado de absolta dependência das suas visões, tantas vezes imaginárias. É o que vemos naqueles que perderam a memória do seu encontro com o Senhor; naqueles que não têm o sentido deuteronômico da vida; naqueles que dependem completamente do seu presente, das suas paixões, caprichos e manias; naqueles que constroem em torno de si barreiras e hábitos, tornando-se, sempre mais escravos dos ídolos que esculpiram com suas próprias mãos.

7. A doença da rivalidade e da vanglória. Quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias de honra se tornam o objetivo primordial da vida, esquecendo as palavras de São Paulo: «Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses , e sim os dos outros» (Fl 2,1-4). É a doença que nos leva a ser homens e mulheres falsos, e a vivermos um falso “misticismo” e um falso “quietismo”. O mesmo São Paulo os define «inimigos da Cruz de Cristo» porque se envaidecem da própria ignomínia e só têm prazer no que é terreno» (Fl 3,19).

8. A doença da esquizofrenia existencial. É a doença dos que vivem uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do vazio espiritual progressivo que formaturas ou títulos acadêmicos não podem preencher. Uma doença que atinge frequentemente aquele que, abandonando o serviço pastoral, se limitam aos afazeres burocráticos, perdendo, assim, o contato com a realidade, com as pessoas concretas. Criam, assim, um seu mundo paralelo, onde colocam à parte tudo o que ensinam severamente aos outros e começam a viver uma vida oculta e muitas vezes dissoluta. A conversão è por demais urgente e indispensável para esta gravíssima doença (cf Lc 15,11-32).

9. A doença das fofocas, das murmurações e do mexerico. Já falei muitas vezes desta doença, mas nunca è suficiente. É uma doença grave, que começa simplesmente, quem sabe, para trocar duas palavras e se apodera da pessoa, transformando-a em  “semeadora de cizânia” (como satanás), e em tantos casos “homicida a sangue frio” da fama dos seus colegas e confrades. É a doença das pessoas velhacas que, não tendo a coragem de falar diretamente, falam pelas costas. São Paulo nos adverte: «Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes» (Fl 2,14-18). Irmãos, guardemo-nos do terrorismo das maledicências!

10. A doença de divinizar os chefes: é a dos que cortejam os Superiores, esperando obter a benevolência deles. São vítimas do carreirismo e do oportunismo, honrando as pessoas e não a Deus (cf Mt 23,8-12). São pessoas que vivem o serviço, pensando exclusivamente no que devem obter e não no que devem dar. Pessoas mesquinhas, infelizes e inspiradas só pelo seu próprio egoísmo (cf Gal 5,16-25). Esta doença  poderia atingir também os Superiores, quando cortejam alguns seus colaboradores para obter a sua submissão, lealdade e dependência psicológica, mas o resultado final é uma verdadeira cumplicidade.

11. A doença da indiferença para com os outros. Quando alguém pensa somente em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das relações humanas. Quando o mais experto não coloca o seu conhecimento a serviço dos colegas menos expertos. Quando se chega ao conhecimento de algo e o esconde para si, ao invés de compartilhar positivamente com os outros. Quando, por ciúme ou por astúcia, se sente alegria ao ver o outro cair, ao invés de erguê-lo e encorajá-lo.

12. A doença da cara funérea. Quer dizer, das pessoas grosseiras e sisudas que pensam que, para ser sérias, é necessário assumir as feições de melancolia, de severidade e tratar os outros – principalmente os que consideram inferiores – com rigidez, dureza e arrogância. Na realidade, a severidade teatral e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e de insegurança. O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa amável, serena e alegre que transmite alegria por toda parte onde quer se encontre. Um coração repleto de Deus è um coração feliz que irradia e contagia de alegria todos os que estão à sua volta: é o que se vê imediatamente! Não percamos, portanto, aquele espírito jovial, cheio de humor, e até auto-irônico, que nos torna pessoas amáveis, mesmo nas situações difíceis. Quanto bem nos faz uma boa dose de sadio humorismo! Far-nos-á muito bem recitar muitas vezes a oração de São Tomás Moro: rezo-a todos os dias; me faz bem.

13. A doença de acumular: quando o apóstolo procura preencher um vazio existencial no seu coração, acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para sentir-se seguro. Na realidade, nada de material poderemos levar conosco, porque “a mortalha não tem bolsos” e todos os nossos tesouros terrenos – mesmo que sejam  presentes – jamais poderão preencher aquele vazio; pelo contrário, torná-lo-ão cada vez mais exigente e mais profundo. A estas pessoas o Senhor repete: «Dizes: sou rico, faço bons negócios, de nada necessito – e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu ... Reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te» (Ap 3,17-19). A acumulação só pesa e freia inexoravelmente o caminho! E penso numa anedota: um tempo, os jesuítas espanhóis descreviam que a Companhia de Jesus era como a “cavalaria leve da Igreja”. Lembro-me da mudança de um jovem jesuíta que, enquanto carregava num caminhão os seus muitos bens: bagagens, livros, objetos e presentes, ouvi um velho jesuíta, que estava a observá-lo, dizer com um sorriso sábio: e esta seria a “cavalaria leve da Igreja?”. As nossas mudanças são um sinal desta doença.

14. A doença dos círculos fechados onde a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo, e, em algumas situações, ao próprio Cristo. Também esta doença começa sempre de boas intenções, mas com o passar do tempo, escraviza os membros, tornando-se um câncer que ameaça a harmonia do Corpo e causa tanto mal – escândalos – especialmente aos nossos irmãos menores. A autodestruição ou o “tiro amigo” dos camaradas é o perigo mais sorrateiro. É o mal que atinge a partir de dentro; e, como diz Cristo, «todo o reino dividido contra si mesmo será destruído» (Lc 11,17).

15. E a última: a doença do proveito mundano, dos exibicionismos, quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter dividendos humanos ou mais poder; é a doença das pessoas que procuram insaciavelmente multiplicar poderes e, com esta finalidade, são capazes de caluniar, de difamar e de desacreditar os outros, até mesmo nos jornais e nas revistas. Naturalmente para se exibirem e se demonstrarem mais capazes do que os outros. Também esta doença faz muito mal al Corpo porque leva as pessoas a justificar o uso de todo meio, contanto que atinja o seu objetivo, muitas vezes em nome da justiça e da transparência! E vem-me aqui à mente a lembrança de um sacerdote que chamava os jornalistas para lhes contar – e inventar – coisas privadas e reservadas dos seus confrades e paroquianos. Para ele a única coisa importante era ver-se nas primeiras páginas, porque assim se sentia “potente e convincente”, causando tanto mal aos outros e à Igreja. Pobrezinho!

Irmãos, estas doenças e tais tentações são naturalmente um perigo para todo cristão e para toda cúria, comunidade, congregação, paróquia, movimento eclesial  e podem atingir quer em nível individual quer comunitário.

È necessário esclarecer que só o Espírito Santo  - a alma do Corpo Místico de Cristo, como afirma o Credo Niceno-Constantinopolitano: «Creio... no Espírito Santo, Senhor e e vivificador» - pode curar todas as enfermidades. É o Espírito Santo que sustenta todo esforço sincero de purificação e toda boa vontade de conversão. É Ele que nos faz compreender que todo membro participa da santificação do corpo ou do seu enfraquecimento. É Ele o promotor da harmonia: “Ipse harmonia est”, diz São Basílio. Santo Agostinho diz-nos: «Enquanto uma parte aderir ao corpo, a sua cura não è desesperada; mas o que foi cortado não pode nem curar-se nem sarar».

O restabelecimento é também fruto da consciência da doença e da decisão pessoal e comunitária de tratar-se, suportando pacientemente e com perseverança a terapia.

Somos chamados, portanto – neste tempo de Natal e por todo o tempo do nosso serviço e da nossa existência - a viver «pela prática sincera da caridade , crescendo em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. É por Ele que todo o corpo – coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe è própria – efetua esse crescimento , visando à sua plena edificação na caridade » (Ef 4,15-16).

Amados irmãos!

Certa vez li que os sacerdotes são como aviões: só fazem notícia quando caem, mas há tantos que voam. Muitos criticam e poucos rezam por eles. É uma frase muito simpática, mas também muito verdadeira, porque delineia a importância e a delicadeza do nosso serviço sacerdotal e quanto mal poderia causar um só sacerdote que “cai”, a todo o corpo da Igreja.

Portanto, para não cair nestes dias em que nos preparamos à Confissão, peçamos à Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, que cure as feridas do pecado que cada um de nós tem no seu coração e que ampare a Igreja e a Cúria a fim de que sejam sadias e saneadoras; santas e santificadoras  para a glória do seu Filho e para a nossa salvação e do mundo inteiro. Peçamos a Ela que nos faça amar a Igreja como a amou Cristo, seu Filho e nosso Senhor, e que tenhamos a coragem de nos reconhecermos pecadores e necessitados da sua misericórdia e que não tenhamos medo de abandonar a nossa mão entre as suas mãos maternais.

 Os melhores votos de um santo Natal a todos vós, às vossas famílias e aos vossos colaboradores. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim! Obrigado de coração!

(Tradução livre de João da Ponte Lopes)

(from Vatican Radio)

Papa à Curia Romana: quinze doenças e tentações para um exame de consciência



2014-12-23 Rádio Vaticana
O Papa Francisco recebeu em audiência na Sala Clementina os membros da Curia Romana para os tradicionais votos de Boas Festas. No seu discurso o Santo Padre referiu as quinze doenças da Cúria convidando todos a pedirem perdão a Deus que “nasce na pobreza da gruta de Belém para nos ensinar a potência da humildade”. O Papa pede um verdadeiro exame de consciência na preparação do Natal.
Ao apontar estas quinze doenças ou tentações o Papa Francisco esclarece que não dizem respeito apenas à Cúria Romana mas são um perigo para qualquer cristão, diocese, comunidade, congregação, paróquia e movimento eclesial.
O Papa Francisco observou que “seria belo pensar na Cúria Romana como um pequeno modelo de Igreja, ou seja, como um corpo que tenta seriamente e quotidianamente de ser mais vivo, mais são, mais harmonioso e mais unido em si próprio e com Cristo.”
O Santo Padre afirmou ainda a Igreja não pode viver sem ter uma relação vital, pessoal e autênctico com Cristo. “Vai-nos ajudar o catálogo das doenças, na esteira dos padres do deserto” – afirmou o Papa Francisco que passou a apresentar as quinze doenças ou tentações:
Sentir-se imortal ou indispensável – “Uma Curia que não faz auto-crítica, que não se atualiza é um corpo enfermo”. É o “complexo dos eleitos, do narcisismo”;
Martalismo – provêm de Marta – é a doença do excesso de trabalho – os que trabalham sem usufruirem do melhor. A falta de repouso leva ao stress e à agitação;
A mentalidade dura – ou seja, quando se perde a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e nos escondemos atrás de papeis, deixando de ser “homens de Deus”;


A excessiva planificação – “quando o Apóstolo planifica tudo minuciosamente e pensa que assim as coisas progridem torna-se num contabilista”. É a tentação de querer pilotar o Espírito Santo;

Má coordenação – quando se perde a comunhão e o “corpo perde a sua harmoniosa funcionalidade”;

O Alzheimer espiritual – esquecer a história do encontro com Deus. Perda da memória com o Senhor. Criam muros e são escravos de ídolos.

Rivalidade e vã glória – quando o objetivo da vida são as honorificiências. Leva-nos a ser falsos e a viver um falso misticismo.

Esquizofrenia existencial – “vivem uma vida dupla fruto da hipocrisia típica do mediocre e do progressivo vazio espiritual que livenciaturas e títulos académicos não podem preencher”. Burocratismo e distância da realidade. Uma vida paralela.

Mexericos – nunca é demais falar desta doença. Podem ser homicidas a sangue frio. “É a doença dos velhacos que não tendo a coragem de falar diretamente falam pelas costas”. Defendamo-nos do terrorismo dos mexericos;

Cortejar os chefes – Carreirismo e oportunismo. “Vivem o serviço pensando unicamente àquilo que devem obter e não ao que devem dar”. Pode acontecer também aos superiores;

Indiferença perante os outros – quando se esconde o que se sabe. Quando por ciúme sente-se alegria em ver a queda dos outros em vez de o ajudar a levantar”;

Cara fúnebre – para ser sérios é preciso ser duros e arrogantes. “A severidade teatral e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e insegurança”. “O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa cortês, serena, entusiasta e alegre e que transmite alegria...”. “Como faz bem uma boa dose de são humorismo”;

Acumular bens materiais – “Quando o apóstolo tentar preencher uma vazio existencial no seu coração acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para sentir-se seguro”;

Círculos fechados – viver em grupinhos. Inicia com boas intenções mas faz cair em escândalos;

O lucro mundano e exibicionismo – “quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter lucros mundanos ou mais poder.

O Papa Francisco concluiu o seu discurso recordando de ter lido uma vez que “os sacerdotes são como os aviões, fazem notícia só quando caiem...”. “Esta frase” – observou o Papa – “é muito verdadeira porque delineia a importância e a delicadeza do nosso serviço sacerdotal e quanto mal poderia causar um só sacerdote que cai a todo o Corpo da Igreja”.
 


(RS)(from Vatican Radio)

domingo, 21 de dezembro de 2014

Novamente é Natal!




2014-12-21 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

Novamente é Natal! Nestes dias nos sentimos um pouco diferentes. Alguns melhores, outros piores, alguns mais sentimentais, outros indiferentes. Mas certamente o ar que se respira é de algo diferente, não novo, mas diferente. Movidos pela ocasião não são poucos aqueles que chegam até mesmo – o que não fizeram durante o ano inteiro – cumprimentar o irmão, dizem bom-dia, perguntam como você está? É o momento em que, em família, sentimos a ausência daqueles que estão distantes.
Aproximamo-nos do Natal em meio a grandes tristezas e tribulações, mas também grandes esperanças. As tristezas nascem dos conflitos, das perseguições, dos horrores da guerra e do massacre de inocentes. Os eventos recentes da tragédia ocorrida na escola de Peshawar, no Paquistão, onde um comando talibã matou 130 crianças e adolescentes, assim como os atos terroristas cometidos no Iêmen e na Austrália, nos jogaram novamente no drama da violência que abala o mundo. Eventos que mais uma vez obrigaram o Papa Francisco a levantar a sua voz para chamar a atenção desses atos desumanos que ceifam a vida de inocentes e que “não param nem mesmo diante de crianças”.

Em outras partes do mundo os cristãos são perseguidos por causa da fé e diante de suas tribulações eles nos permitem olhar para o Natal com o seu verdadeiro valor: testemunhar a fé em Cristo e até à morte. Eles hoje oferecem seus sofrimentos. Sim porque em muitos países como Iraque, Síria, não poderão festejar como se deve o nascimento de Cristo; não poderão enfeitar suas igrejas, montar o presépio e a árvore, coisa que nós fazemos sem pensar. Vamos então imaginar como esses nossos irmãos viverão a chegada do Príncipe da paz. Certamente nos lugares onde poderão celebrar a missa de Natal repetirão que Cristo é a paz e só d’Ele vem este dom. Dele vem a coragem e a força para enfrentar todo sofrimento. Ele é a esperança de que nesses lugares que são alvos da irracionalidade da guerra e de pensamentos errados, o sol despontará. A noite está passando e a aurora está próxima.

E junto com esta esperança temos também a esperança que brotou de uma grande notícia, histórica, que alegrou o coração do Papa e de milhões de pessoas: a retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, precisamente no dia em que Francisco comemorava seus 78 anos. Passaram-se 55 anos desde a revolução de Fildel Castro. Cuba e Estados Unidos restabeleceram as relações diplomáticas, mas ainda existe um longo caminho a ser percorrido, com o levantamento do embargo.

O Papa Francisco expressou “viva satisfação” pela decisão histórica dos dois governos avançarem rumo à normalização de suas relações diplomáticas. O Pontífice, – através da Secretaria de Estado, - elogiou a reaproximação entre os dois países, "com o objetivo de superar, em nome do interesse de seus respectivos cidadãos, as dificuldades que marcaram suas histórias recentes". Os presidentes estadunidense e cubano, respectivamente, Barack Obama e Raúl Castro agradeceram a Francisco pelo papel desempenhado por ele na promoção do diálogo entre os dois países.



“Hoje estamos felizes, porque vimos como dois povos, que estavam há tantos anos distantes fizeram um passo de aproximação” disse Francisco diante de embaixadores de 13 países que apresentaram as suas credenciais junto à Santa Sé.

Falando ainda desta histórica decisão dos dois governos à Rádio Vaticano o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, destacou o esforço de mediação do Vaticano, ao longo destes anos, começando por João XXIII e depois João Paulo II, Bento XVI e, agora, o Papa Francisco.

Como disse Francisco, em várias ocasiões, onde há divergências é preciso aplicar o método do diálogo. Se um diálogo for sincero, levará sempre as pessoas a se encontrar e a colaborar, não obstante as diversidades. “Logo, o Papa convida todos a uma cultura do encontro”.

As Igrejas de Cuba e Estados Unidos expressaram "especial gratidão" ao Papa Francisco como "gestor importante" desse evento. "Agradeçamos ao Senhor, às vésperas do Natal, para que novos horizontes de esperança iluminem a vida do povo cubano, pois as boas relações entre povos tão próximos são o fundamento de um futuro promissor", disseram os cubanos.

“O Papa Francisco fez o que se espera que um Papa faça: construir pontes e promover a paz” disseram os bispos estadunidenses.

Entre a dor e a esperança vivemos a chegada do Natal.

Que este Natal nos abra à esperança do Menino que nasce e nos deixemos surpreender pela Sua mensagem de paz, cancelando toda dor produzida pelo homem. Natal - como disse nos dias passados Francisco - não é somente uma data, uma ocasião bonita é muito mais… é um encontro com o coração, com a vida, com o Senhor vivo, com a fé. Mas, mais importante do que encontrarmos Jesus é deixar-nos encontrar por Ele: “Quando é Ele que entra em nós, é Ele que refaz tudo”. Ele refaz nosso coração, alma, vida, nossas esperanças… por vamos deixar o nosso coração aberto!.

Na noite do mundo, deixemo-nos então surpreender e iluminar pelo ato de Deus, que é totalmente inesperado: Deus se faz Menino. Em nome da Redação do Programa Brasileiro desejamos um Feliz Natal a todos os amigos que acompanham a Rádio Vaticano, a Rádio do Papa.


(Silvonei José)(from Vatican Radio)

Papa: Presépio e Árvore de Natal são mensageiros de luz, esperança e amor

2014-12-21 Rádio Vaticana
A árvore de Natal, proveniente de um bosque da província de Vibo Valentia, Catanzaro, no sul da Itália, é um presente ao Santo Padre como auspício de esperança por um futuro de crescimento e paz. A árvore tem 25 metros e meio de altura, 55 centímetros de diâmetro e pesa quase 8 toneladas.
O presépio, proveniente de Verona, nordeste da Itália, é inspirado na lírica. Trata-se de uma doação feita ao Papa pela Fundação “Verona pela Arena”, que representa a cenografia da obra “Elixir de Amor”. O presépio é composto de umas vinte estátuas de barro, de tamanho natural, com vestes e acessórios, resistentes às intempéries.

O Papa Francisco recebeu em audiência as delegações das duas regiões e explicou-lhes que no presépio e na árvore encontramos sinais sugestivos para os cristãos mas também uma mensagem válida para todos:

“Chamam a atenção para o Mistério da Encarnação, o Filho Unigénito de Deus fez-se homem para nos salvar e a luz que Jesus levou ao mundo com o seu nascimento. Mas o presépio e a árvore tocam o coração de todos, inclusive de quem não crê, porque fala de fraternidade, de intimidade e de amizade, chamando os homens do nosso tempo a redescobrirem a beleza da simplicidade, da partilha e da solidariedade.”

O presépio e a árvore trazem uma mensagem de luz, esperança e amor que convida a darmos lugar a Deus na nossa vida:

“Ele não vem com arrogância a impôr a sua potência, mas aferece-nos o seu amor omnipotente através da frágil figura de um menino. O presépio e a árvore trazem uma mensagem de luz, de esperança e de amor.”

A nova iluminação da Cúpula e da fachada da Basílica de S. Pedro consiste num moderno sistema, composto por 315 lâmpadas Led, que ressaltam as estruturas arquitetónicas e as cores da obra de Michelangelo. Os responsáveis pela instalação do novo sistema dizem que a nova iluminação permitirá uma economia energética de cerca de 70%.

No momento da inauguração da nova iluminação o Cardeal Angelo Comastri, Vigário Geral do Papa para a Cidade do Vaticano afirmou que “da Gruta de Belém parte um raio de luz, que ilumina a Cúpula de S. Pedro e a fachada da Basílica Vaticana. A vida de Pedro está indissoluvelmente ligada a Jesus. Pedro veio a Roma, onde derramou o seu sangue, dando à Igreja de Roma a continuidade da missão que Jesus lhe confiou: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’ ” – afirmou o Cardeal Comastri na cerimónia de inauguração do presépio e da árvore de natal na Praça de S. Pedro.

(RS)(from Vatican Radio)

sábado, 20 de dezembro de 2014

Reflexão para o quarto Domingo do Advento

2014-12-20 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

A leitura do Segundo Livro de Samuel nos dá um alerta de que não poderemos enquadrar Deus dentro dos nossos esquemas e, até, deveremos desconfiar de nossas “boas intenções”.
O rei Davi tem uma idéia que aparentemente é santa –construir um belo templo para guardar a Arca da Aliança - mas na verdade seu inconsciente deseja justificar a grandiosidade de seu palácio e posicionar Deus em um local. Nesse sentido sua consciência ficaria tranquila.
Ora, Deus não se enquadra e, menos ainda, pode ser usado para justificar nossos caprichos e veleidades. O Senhor, ao contrário, diz a Davi que será Ele -Deus - quem edificará uma casa para ele, uma casa no sentido mais nobre, Deus dará a Davi uma importantíssima descendência, da qual nascerá o Salvador.
Poderemos nos perguntar sobre qual visão temos de Deus, qual nosso modo de nos relacionar com Ele? Queremos manipulá-lo, trazê-lo para justificar nossos interesses ou estamos abertos para a novidade que Ele é, sem tentar ajustá-lo ao nosso modo de ser, pelo contrário, adaptando-nos ao Seu querer?
Lancemos nosso olhar sobre a reação dos personagens do Evangelho de hoje.
Deus vai buscar uma virgem, em Nazaré, um lugar social e economicamente desprezável. Ora, virgem na mentalidade da época era uma pessoa desprezível, que não havia atraído sobre si o olhar de nenhum homem. No entanto é exatamente aí, em um povoado abjeto e em uma pessoa sem importância que Deus irá se encarnar.
Por outro lado, Maria e José terão suas vidas totalmente mudadas por Deus. Eles haviam planejado um casamento comum e uma vida tranqüila. Deus entrou na vida dos noivos dizendo a Maria que Ele queria que ela fosse mãe de Seu Filho e que a ação seria por conta do Espírito Santo.
Maria, generosamente deu o seu sim, sem exigir maiores explicações, mas apenas obedecendo a Deus e confiando em Seu amor. Ela se põe à disposição do projeto de Deus.
José, de repente, percebeu que sua noiva estava grávida e ele não era o responsável. Ele nada entendeu, não quis difamar aquela que, a seus olhos, era honesta e procedeu de modo justo. Deus foi a seu socorro e o fez entender o que se passava.


Segundo Isaías (32, 15), é Deus quem transforma todos os desertos em jardins e os jardins em florestas.

Porque Maria e José foram abertos à vontade de Deus, acolhendo a missão dada a eles, a Humanidade foi redimida e eternamente lhe é grata, ao sim de Maria e ao sim de José.

Deixemo-nos tocar por Deus. Cabe a Ele conduzir Seu plano de amor para nós e nosso papel no mundo. Digamos como Maria, “Faça-se em mim segundo a tua palavra.”

Deus não escolheu palácios para nascer, nem aceitou ser aprisionado em templos: encarnou-se em uma pessoa e na vida das pessoas, e continuará a fazê-lo mediante os que creem e se põem a serviço do Reino.




Pe. Cesar Augusto dos Santos, SJ

(from Vatican Radio)

A última pregação de Advento ao Papa e à Cúria

2014-12-20 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

O “meio mais eficaz” para conservar a paz “é a certeza de ser amados por Deus”. Este foi, em síntese, o tema da última pregação do Advento do Padre Raniero Cantalamessa ao Papa Francisco e à Cúria Romana, reunidos na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. Neste ano, as pregações das sexta-feiras do Advento foram dedicadas “à paz fruto do espírito”.
Instituições místicas fulgurantes, duras práticas ascéticas. Percursos diferentes com um único objetivo: chegar a obter a paz interior. Padre Raniero Cantalamessa recordou alguns santos e pensadores que ao longo de dois mil anos de história cristã escalaram o caminho da paz do espírito, no âmbito da tradição espiritual da Igreja.

O Pregador da Casa Pontifícia começou por São Paulo, dizendo que quando ele fala dos ‘frutos do espírito’ coloca a paz em “terceiro lugar”, após o amor e a alegria e antes da benevolência e da bondade até o domínio de si. E enquanto os carismas são distintos e obra exclusiva do Espírito - que os concede a quem e quando quer -, os frutos do Espírito, ao contrário, são “idênticos para todos”. Em outras palavras – explicou – nem todos na Igreja podem ser apóstolos e profetas, mas todos “podem e devem ser caridosos, pacientes, humildes, pacíficos” e assim por diante. Portanto, a paz, fruto do Espírito, indica a condição, o estado de alma e o estilo de vida de quem, “mediante esforço e vigilância, atingiu uma certa pacificação interior”.

Santo Agostinho é aquele que começou a indicar na Igreja um dos caminhos acessíveis à paz interior, tanto aos contemplativos quanto aos cristãos de vida ativa. E enquanto na terra – escrevia o Santo de Hipona - “o lugar do nosso repouso é a vontade de Deus, no céu este lugar será o próprio Deus”:

“Naquela paz não é necessário que a razão domine os impulsos porque não existirão, mas Deus dominará o homem, a alma espiritual, o corpo e será tão grande a serenidade e a disponibilidade à submissão, quão grande é a delícia de viver e dominar. E então, em todos e em cada um, esta condição será eterna e se terá a certeza de que é eterna e por isto a paz de tal felicidade, ou seja, a felicidade de tal paz, será o sumo bem”.

Célebre, por percorrer o caminho da paz, foi também a “doutrina da santa indiferença” de ignácio de Loyola – onde as preferências pessoais são colocadas de lado, que modo que, o que dá a paz ao coração, após longo discernimento, é aquilo que está conforme o desejo de Deus. Ou então, na “Imitação de Cristo”, um meio sugerido é o de evitar a “vã curiosidade” pois o que conta é seguir Cristo sem dar peso àquilo que fazem os outros. Em todos estes e em outros modos – explicou o Padre Cantalamessa – o que é evidenciado é “a luta da carne contra o espírito”:

“O Espírito Santo não é a recompensa aos nossos esforços de mortificação, mas aquilo que os torna possíveis e frutuosos; não está somente no final, mas também no início do processo (...). Neste sentido se diz que a paz é fruto do espírito; ela é o resultado do nosso esforço, tornado possível pelo Espírito de Cristo. Uma mortificação voluntária e muito confiante de si mesma pode tornar-se – e se torna frequentemente – também ela uma obra da carne”.

Para o Frei capuchinho, “o meio mais eficaz para conservar a paz do coração” repousa sobretudo em uma certeza, a de “ser amados por Deus”, assim como os anjos afirmam na noite de Natal: “paz na terra aos homens que Deus ama”. Neste ponto Padre Cantalamessa ressalta a profunda diferença entre o significado que o Evangelho atribui àquele “divino beneplácito” anunciado pelos anjos, em relação àquele dado, por exemplo, pela seita dos essênios de Qumran, para os quais os homens amados por Deus são somente um grupo de eleitos:

“Junto aos essênios de Qumran, ‘o divino beneplácito’ discrimina; são somente os adeptos da seita. No Evangelho “os homens da divina benevolencia” são todos os homens, sem execeção(...). Se a paz fosse dada aos homens pela sua “boa vontade”, então sim que ela seria limitada a pouco, àqueles que amerecem; mas como é dada pela boa vontade de Deus, pela graça, ela é oferecida a todos”.

Santa teresa de Ávila, conclui o Padre Cantalamessa, “nos deixou uma espécie de testamento, que é útil repetir cada vez que temos necessidade de reencontrar a paz do coração”:

“Nada te turbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda; a paciência tudo pode; a quem tem Deus nada falta. Só Deus basta”.
(JE)

(from Vatican Radio)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Ao completar 78 anos, as homenagens a Francisco

2014-12-17 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

“Hoje aqui sopra o vento do pampa! Parece a Praça do 2 x 4”, exclamou o Papa Francisco ao final da Audiência Geral, saudando os milhares de bailarinos presentes na Praça, que logo após, tomaram a Via da Conciliação e a Praça Pio XII para homenageá-lo com a tradicional dança argentina.
Mas não foram somente os dançarinos a homenagear Francisco. Centenas de cartazes com felicitações eram portados pelos fiéis de todas as partes do mundo, que saudavam efusivamente o Pontífice quando girava pela praça a bordo do Jeep papal. Um grupo de sacerdotes argentinos lhe ofereceu um bolo com 78 velinhas e chimarrão e um grupo de sem-teto ofereceu-lhe um buquet de girassóis, “flor que olha sempre em direção ao sol, como o Papa olha sempre para Deus”, explicaram.

Mas, ao final da audiência, foram ligados amplificadores na Praça Pio XII, em frente à Praça São Pedro, dando o compasso aos mais de 2.500 – alguns falam em 3 mil – ‘tangueros’, que ao som de Astor Piazzola, Amelia Baltar e Juan D’Arienzo, homenageram Francisco com os passos de um ritmo que lhe é muito caro. Esta espécie de flash-mobe convocado pelas redes sociais, foi considerado como “a maior milonga do mundo”.

A organizadora do evento, Cristina Camorani, contou que a idéia surgiu numa brincadeira entre um grupo de amigos. Inicialmente os funcionários do Vaticano ficaram um pouco reticentes com o pedido para dançar na Praça, mas sabendo do pedido, Francisco concedeu a autorização. Inicialmente, somente 50 pessoas haviam confirmado a presença. Após, começaram a recolher adesões no boca-a-boca e nas redes sociais e este número chegou a três mil.

Da Espanha, por sua vez, chegou na tarde de hoje um caminhão com 800 quilos de frango, para ser doado aos pobres. Uma doação de uma cooperativa espanhola, que repete um gesto realizado também no passado.

No final da tarde de hoje, segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, alguns indigentes prestarão uma pequena homenagem ao Papa Francisco, numa iniciativa da Esmolaria Pontifícia.
(JE)


(from Vatican Radio)

domingo, 14 de dezembro de 2014

Grandes ensinamentos do humilde São João da Cruz

sao_joao_da_cruz1Dia 14 de dezembro a Igreja celebra sua memória litúrgica Seu nome era João de Yepes, espanhol. Foi um dos santos mais desconcertantes e ao mesmo tempo mais transparente da mística moderna. Era vinte e sete anos mais jovem do que sua amiga Santa Teresa de Ávila, que o chamava de seu “pequeno Sêneca”, por causa de sua baixa estatura. Amavelmente, Santa Teresa o chamava de “meio-homem”, mas não hesitava em considera-lo pai de sua alma. Dizia que não era possível conversar com ele sobre Deus em vê-lo em êxtase.

São João da Cruz foi um grande mestre da vida espiritual. O resumo de sua vida monástica estava nessas palavras: “Não faça coisa alguma, nem diga palavra alguma, que Cristo não faria ou não diria se se encontrasse nas mesmas circunstâncias de você, e tivesse a mesma saúde e idade suas.”; “Nada peça a não ser a cruz, e precisamente sem consolação, pois isso é perfeito.”; “Renuncie aos seus desejos e encontrará o que o seu coração deseja”.

Conheça 10 de muitos ensinamentos que este grande santo e doutor da Igreja nos deixou:

1-“Se está em mim aquele a quem minha alma ama, como não o encontro nem o sinto? É por estar ele escondido. Mas não te escondas também; assim podes encontrá-lo e senti-lo…”

2-“Não faça coisa alguma, nem diga palavra alguma que Cristo não faria ou não diria se encontrasse as mesmas circunstâncias.”

3-“Renuncie aos desejos e encontrará o que seu coração deseja.”

4-“Quem se queixa ou murmura não é cristão perfeito, nem mesmo um bom cristão.”

5-“Para se progredir, o que mais se necessita é saber calar diante de Deus… a linguagem que ele melhor ouve é a do silêncio de amor.”

6-“O demônio teme a alma unida a Deus como ao próprio Deus.”

7-“A pessoa que caminha para Deus e não afasta de si as preocupações, nem domina suas paixões, caminha como quem empurra um carro encosta a cima.”

8-“A constância de ânimo, com paz e tranquilidade, não só enriquece a pessoa, como a ajuda muito a julgar melhor as adversidades, dando-lhes a solução conveniente.”

9-“As criaturas são os vestígios das pegadas de Deus, pelas quais se reconhece sua grandeza, poder e sabedoria”.

10-“Deus quer mais de ti um mínimo de obediência e docilidade, do que todas as ações que realizas por ele.”


Fonte http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2014/12/12/grandes-ensinamentos-do-humilde-sao-joao-da-cruz/

sábado, 13 de dezembro de 2014

Papa: os pobres são aqueles que nos evangelizam sempre

2014-12-13 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

Em sua série de audiências sucessivas, na manhã deste sábado (13/12), o Papa Francisco recebeu, o Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos; o Primeiro Ministro da Itália, Matteo Renzi, e Dom Georg Kocherry, Núncio Apostólico no Bangladesh.
A seguir, na Sala do Consistório, no Vaticano, uma delegação de 75 “Amigos de Gabriel Rosset” e do “Lar Nossa Senhora dos Sem-teto”. Trata-se de duas Associações que acolhem pessoas sem-teto para ajudá-las e inseri-las novamente na sociedade.
Em sua saudação aos presentes, o Santo Padre manifestou seu apreço pelo trabalho de tais Instituições entre os pobres, as pessoas excluídas da sociedade, os sem-teto, os famintos, os desempregados, os sem dignidade.

O fundador destas Associações, Gabriel Rosset, ouviu o grito dos pobres e, diante dos seus sofrimentos, respondeu com grande generosidade, recordando do apelo do próprio Cristo sofredor.

Com efeito, afirmou o Pontífice, os pobres são aqueles que nos evangelizam sempre, nos comunicam, misteriosamente, a sabedoria de Deus. O mundo de hoje, disse, tem urgente necessidade do testemunho da misericórdia divina. O pobre é a pessoa preferida pelo Senhor e está ao centro do seu Evangelho!

Por isso, o Bispo de Roma agradeceu por este testemunho misericordioso que os membros destes Institutos dão concretamente, com gestos simples e carinhosos, através dos quais aliviam a miséria das pessoas, dispensando-lhes uma nova esperança e restituindo-lhes dignidade humana.

A opção pelos últimos da sociedade, concluiu o Papa, é sempre um sinal que pode ser dado, em nome de Cristo morto e ressuscitado. E referindo-se ao Advento, destacou a dimensão mariana do trabalho destas Associações, porque a Mãe de Jesus dá sempre um teto a seus filhos. Ela é repleta de compaixão por todos os homens, sobretudo pelos pobres, deserdados e necessitados.
(MT)

(from Vatican Radio)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Texto completo da segunda pregação de Advento

2014-12-12 Rádio Vaticana


Pe. Raniero Cantalamessa

Segunda pregação

“BEM-AVENTURADOS OS PACIFICADORES,

PORQUE ELES SERÃO CHAMADOS FILHOS DE DEUS”

A paz como tarefa

Depois de meditar, na primeira pregação, sobre a paz como dom de Deus, vamos refletir agora sobre a paz como tarefa e compromisso pelo qual devemos trabalhar. Somos chamados a imitar o exemplo de Cristo, tornando-nos canais para que a paz de Deus chegue aos nossos irmãos. É a tarefa que Jesus dá aos seus discípulos quando proclama "bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (Mt 5, 9). O termo eirenopoioi não significa "pacíficos" (estes pertencem à bem-aventurança dos mansos, dos não violentos); significa "pacificadores", isto é, as pessoas que trabalham pela paz.

1. A paz de Jesus e a paz de César Augusto

Jesus não só nos exortou a ser pacificadores como também nos ensinou, pelo exemplo e pela palavra, de que modo podemos nos tornar pacificadores. Ele diz aos discípulos: "Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não como a dá o mundo eu a dou a vós" (Jo 14, 27). Naquela mesma época, outro grande homem proclamava a paz ao mundo. Foi encontrada na Ásia Menor uma cópia do famoso "Atos do Divino Augusto", redigido pelo próprio imperador César Augusto. Nele, entre as suas grandes conquistas, o imperador romano também cita a de ter estabelecido no mundo a paz de Roma: uma paz, como ele escreve, "obtida através de vitórias" (parta victoriis pax) [1].

Jesus revela que existe outro modo de realizar a paz. A dele também é uma “paz fruto de vitórias”, mas de vitórias sobre nós mesmos, não sobre os outros; de vitórias espirituais, não militares. Na cruz, escreve São Paulo, Jesus “destruiu em si mesmo a inimizade” (Ef 2, 16): destruiu a inimizade, não o inimigo, e a destruiu em si mesmo, não nos outros.

O caminho para a paz indicado pelo Evangelho não faz sentido só no âmbito da fé: ele vale também na esfera política. Hoje vemos com clareza que o único caminho para a paz é a destruição da inimizade, não do inimigo. Os inimigos são destruídos com armas, a inimizade com o diálogo. Eu li que, certa vez, alguém repreendeu Abraham Lincoln por ser cortês demais com seus adversários políticos e lhe recordou que o seu dever como presidente era destruí-los. Ele respondeu: "Por acaso não destruo meus inimigos quando os torno amigos?".
É a situação do mundo que exige dramaticamente que o método de Augusto seja trocado pelo de Cristo. O que há no fundo de certos conflitos aparentemente insolúveis se não, precisamente, a vontade e a secreta esperança de chegar um dia a destruir o inimigo? Infelizmente, vale também para os inimigos aquilo que Tertuliano disse dos primeiros cristãos perseguidos: "Semen est sanguis christianorum": o sangue dos cristãos é semente de outros cristãos. O sangue dos inimigos também é semente de outros inimigos: em vez de destruí-los, ele os multiplica.

“Não podemos nos resignar”, disse o papa na recente visita à Turquia, referindo-se à situação no Oriente Médio, “com a continuação dos conflitos, como se não fosse possível uma mudança da situação para melhor! Com a ajuda de Deus, podemos e devemos renovar sempre a coragem da paz!”. Um modo de ser operadores da paz, e, muitas vezes, o único que resta, é rezar pela paz. Quando não é mais possível agir sobre as causas segundas, podemos sempre, com a oração, “agir sobre a causa primeira”. A Igreja não se cansa de fazê-lo todos os dias na missa com aquela invocação em coro: “Concedei, Senhor, a paz aos nossos dias”, Da pacem, Domine, in diebus nostris.

Além da paz política, o Evangelho pode contribuir com a paz social. Repete-se com frequência a afirmação do profeta Isaías: “A paz é fruto da justiça” (Is 32,17). A “Evangelii gaudium”, a este respeito, põe o dedo na ferida e denuncia, sem panos quentes, a maior injustiça que obstaculiza a paz:

“A paz social não pode ser entendida como irenismo ou como mera ausência de violência, obtida pela imposição de uma parte sobre as outras. Também seria uma paz falsa aquela que servisse como desculpa para justificar uma organização social que silencie ou tranquilize os mais pobres, de modo que aqueles que gozam dos maiores benefícios possam manter o seu estilo de vida sem sobressaltos, enquanto os outros sobrevivem como podem. As reivindicações sociais, que têm a ver com a distribuição de renda, com a inclusão social dos pobres e com os direitos humanos, não podem ser sufocadas com o pretexto de se construir um consenso de escritório ou uma paz efêmera para uma minoria feliz. A dignidade da pessoa humana e o bem comum estão acima da tranquilidade de alguns que não querem renunciar aos seus privilégios”[2].

2. Paz entre as religiões

Diante dos pacificadores, abre-se hoje um campo de trabalho novo, difícil e urgente: promover a paz entre as religiões. O parlamento mundial das religiões, na sessão de Chicago em 1993, lançou esta proclamação: “Não há paz entre as nações sem paz entre as religiões e não há paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões”.

O motivo de fundo que permite um diálogo leal entre as religiões é que “todos temos um único Deus”. O papa São Gregório VII, em 1076, escreveu a um príncipe muçulmano da África do Norte: “Acreditamos e confessamos um só Deus, embora de modo diferente; todos os dias, nós o louvamos e veneramos como criador dos séculos e governador deste mundo”[3]. É a verdade que serviu de ponto de partida também para São Paulo em seu discurso no areópago de Atenas: “Nele todos vivemos, nos movemos e somos” (cf. At 17,28).

Subjetivamente, temos ideias diversas sobre Deus. Para nós, cristãos, Deus é “o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”, que não conhecemos plenamente a não ser “por meio dele”; mas, objetivamente, sabemos bem que Deus só pode haver um. Todo povo e língua tem o seu nome e a sua teoria sobre o sol, algumas mais exatas, outras menos, mas o sol é só um e o mesmo!

Fundamento teológico do diálogo é também a nossa fé no Espírito Santo. Como Espírito da redenção e Espírito da graça, ele é o vínculo da paz entre os batizados das diversas confissões cristãs; mas, como Espírito da criação, ou Espírito criador, ele é um vínculo de paz entre os crentes de todas as religiões e, mais ainda, entre todos os homens de boa vontade. “Toda verdade, seja dita por quem quer que seja, vem do Espírito Santo”, escreve Santo Tomás de Aquino[4]. Como esse Espírito criador guiava para Cristo os profetas do Antigo Testamento (1Pt 1,11), assim nós, cristãos, acreditamos que, de um modo que só Deus conhece, ele guia para Cristo e para o seu mistério pascal as pessoas que vivem fora da Igreja (cf. Gaudium et spes, 22).

Falando-se da paz entre as religiões, é necessário dedicar um pensamento paralelo à paz entre Israel e a Igreja. Na “Evangelii gaudium”, o papa presta uma atenção particular a este diálogo e conclui com estas palavras:

“Embora algumas convicções cristãs sejam inaceitáveis para o judaísmo e a Igreja não possa deixar de anunciar Jesus como Senhor e Messias, há uma rica complementaridade que nos permite ler juntos os textos da Bíblia hebraica e ajudar-nos mutuamente a desentranhar as riquezas da Palavra, bem como compartilhar muitas convicções éticas e a preocupação comum pela justiça e pelo desenvolvimento dos povos” (EG, 249).

A paz entre judeus e gentios é, para Paulo, a primeira paz que Jesus realizou na cruz. Ele escreve na Carta aos Efésios:

“Porque é ele a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava, abolindo na própria carne a lei, os preceitos e as prescrições. Desse modo, ele queria fazer em si mesmo dos dois povos uma única humanidade nova pelo restabelecimento da paz e reconciliá-los ambos com Deus, reunidos num só corpo pela virtude da cruz, aniquilando nela a inimizade” (Ef 2, 14-16).

Este texto deu lugar, na tradição cristã, a duas representações iconográficas diferentes e opostas. Em uma, vemos duas mulheres, ambas voltadas para o crucificado. É o caso do Crucifixo de São Damião em Assis. As duas mulheres, aos lados das mãos do crucificado, contrariamente às explicações costumeiras, não são dois anjos (não têm asas e são figuras femininas); elas representam, segundo a mais genuína visão da Carta aos Efésios, uma a Sinagoga e a outra a Igreja, unidas, não separadas, pela cruz de Cristo.

Basta, para nos convencermos, confrontar este ícone com outro mais tardio, da escola de Dionísio (séc. XV), em que também vemos duas mulheres, mas uma, a Igreja, conduzida por um anjo rumo à cruz, e a outra expulsa por um anjo para longe dela.

A primeira imagem representa o ideal e a intenção divina, conforme manifestada por São Paulo; a segunda representa como as coisas aconteceram, infelizmente, na realidade da história. Certa vez, mostrei a um amigo rabino as duas imagens. Quase comovido, ele comentou: “Talvez a história das nossas relações tivesse sido outra se, em vez da segunda, tivesse prevalecido a primeira visão”. A fidelidade à história nos obriga a dizer que, se não foi assim, pelo menos no início, não foi por responsabilidade apenas dos cristãos.

Devemos nos alegrar e agradecer a Deus porque hoje, ao menos em espírito, tendemos todos a preferir a visão do crucifixo de São Damião e não a outra. Queremos que a cruz de Cristo ajude a reaproximar os judeus e os cristãos, não a contrapô-los; que mesmo a celebração da cruz da Sexta-Feira Santa favoreça, em vez de obstaculizar, este diálogo fraterno.

3. Think globally, act locally

Um slogan em voga hoje diz: “Think globally, act locally”; pense globalmente, aja localmente. Ele é particularmente verdadeiro para a paz. Temos que pensar na paz mundial, mas agir pela paz em nível local. A paz não se faz como a guerra. Fazer guerra exige longos preparativos: formar grandes exércitos, montar estratégias, estabelecer alianças e depois passar ao ataque. Ai daqueles que começassem antes, sozinhos ou por grupos separados; estariam condenados à derrota certa.

Fazer a paz é exatamente o contrário: começar já, antes, mesmo sozinhos, mesmo com um simples aperto de mão. A paz é feita, disse o papa Francisco em certa ocasião recente, "de modo artesanal". Assim como bilhões de gotas de água suja nunca formarão um oceano limpo, assim bilhões de pessoas e famílias sem paz jamais formarão uma humanidade em paz.

Também nós, que estamos aqui reunidos, temos que fazer alguma coisa para ser dignos de falar de paz. Jesus, escreve ainda o Apóstolo, veio anunciar "a paz aos que estão longe e aos que estão perto" (cf. Ef 2, 18). A paz com "os que estão perto" é muitas vezes mais difícil do que a paz com "os que estão longe". Como podemos nós, cristãos, nos dizer promotores da paz se depois brigamos entre nós? Não me refiro, neste momento, às divisões entre católicos, ortodoxos, protestantes, pentecostais, as várias denominações cristãs; refiro-me às divisões que muitas vezes existem entre os pertencentes à nossa própria Igreja católica, por causa de tradições, tendências ou ritos diferentes.

Recordemos as palavras severas do Apóstolo aos coríntios:

“Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que não haja entre vós divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo espírito e no mesmo sentimento. Pois acerca de vós, irmãos meus, fui informado pelos que são da casa de Cloé, que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de que entre vós se usa esta linguagem: Eu sou discípulo de Paulo; eu, de Apolo; eu, de Cefas; eu, de Cristo. Então estaria Cristo dividido? É Paulo quem foi crucificado por vós? É em nome de Paulo que fostes batizados?” (1 Cor 1, 10-13).

O tema da Jornada Mundial pela Paz deste ano é “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”. Cito as primeiras palavras da mensagem:

“A fraternidade é uma dimensão essencial do homem, que é um ser relacional. A viva consciência desta relacionalidade nos leva a ver e tratar toda pessoa como verdadeira irmã e verdadeiro irmão; sem ela, torna-se impossível a construção de uma sociedade justa, de uma paz sólida e duradoura”.

É na família que o texto aponta o primeiro âmbito em que se constrói e se aprende a ser irmãos. Mas a mensagem também se aplica a outras realidades da Igreja: às famílias religiosas, às comunidades paroquiais, ao sínodo dos bispos, à cúria romana. "Vós sois todos irmãos!" (Mt 23, 8), disse-nos Jesus, e se esta palavra não se aplica dentro da Igreja, ao círculo mais estreito dos seus ministros, então a quem se aplica?

Os Atos dos Apóstolos nos apresentam o modelo de uma comunidade verdadeiramente fraterna, "concorde", ou seja, com "um só coração e uma só alma" (At 4, 32). É claro que nada disso pode se realizar a não ser "pelo Espírito Santo". O mesmo aconteceu com os apóstolos. Antes de Pentecostes, eles não eram um só coração e uma só alma; discutiam com frequência quem era, dentre eles, o maior e mais digno de sentar-se à direita e à esquerda de Jesus. A vinda do Espírito Santo os transformou completamente; tirou-os do centro de si mesmos e os recentrou em Cristo.

No relato de Pentecostes, os Padres antigos e a liturgia entenderam a intenção de Lucas de criar um paralelo entre o que aconteceu no dia de Pentecostes e o que tinha acontecido em Babel. Nem sempre, porém, se capta a mensagem contida nesta comparação. Por que em Babel todos falam a mesma língua e, em dado momento, ninguém mais entende o outro, enquanto no dia de Pentecostes, mesmo falando línguas diferentes (partas, elamitas, cretenses, árabes...), todos entendem os apóstolos?

Primeiro, um esclarecimento. Os construtores da torre de Babel não eram ateus que queriam desafiar o céu, mas homens piedosos e religiosos que queriam construir um daqueles templos de terraços sobrepostos, chamados zigurates, dos quais ainda restam ruínas na Mesopotâmia. Isto os torna mais próximos de nós do que imaginamos. Onde está, então, o seu grande pecado? Eles se põem a trabalhar dizendo entre si:

“E disseram uns aos outros: Vamos, façamos tijolos e cozamo-los no fogo. Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de argamassa. Depois disseram: Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra” (Gn 11, 3-4).

Querem construir um templo à divindade, mas não pela glória da divindade, e sim para se tornarem famosos, para obter renome, não para exaltar o nome de Deus. Deus é instrumentalizado a serviço da glória deles. Também os apóstolos, em Pentecostes, começam a construir uma cidade e uma torre, a cidade de Deus, que é a Igreja, mas não para tornar célebre o seu próprio nome, e sim para exaltar o de Deus: “Nós os ouvimos proclamar nas nossas línguas as grandes obras de Deus, exclamam os presentes” (At 2, 11). Eles ficam completamente tomados pelo desejo de glorificar a Deus, esquecendo-se de si mesmos e do próprio renome.

Santo Agostinho tirou daqui a inspiração para a sua grandiosa obra “A Cidade de Deus”. Há, diz ele, duas cidades no mundo: a cidade de Satanás, chamada Babilônia, e a cidade de Deus, chamada Jerusalém. Uma é construída sobre o amor por si mesmo levado até o desprezo de Deus; a outra, sobre o amor por Deus levado até o sacrifício de si mesmo. Estas duas cidades são dois canteiros de obras até o fim do mundo e cada um tem que escolher em qual dos dois quer empregar a própria vida.

Qualquer iniciativa, até mesmo a mais espiritual, como, por exemplo, a da nova evangelização, pode ser ou Babel ou Pentecostes (inclusive, é claro, esta meditação que eu estou dando). É Babel se cada um, com ela, tenta ganhar renome; é Pentecostes, se, apesar do sentimento natural de fazer sucesso e receber aprovação, cada um retifica constantemente a própria intenção, colocando a glória de Deus e o bem da Igreja acima de todos os seus desejos pessoais. Às vezes, é de valia repetirmos para nós mesmos as palavras que Jesus disse um dia diante dos seus adversários: "Eu não busco a minha glória" (Jo 8, 50).

O Espírito Santo não apaga as diferenças, não aplana automaticamente as divergências. Vejamos o que acontece imediatamente após o Pentecostes. Primeiro, surge a divergência sobre a distribuição de víveres para as viúvas; depois, outra muito mais grave sobre receber ou não, e em quais condições, os pagãos na Igreja. Mas não vemos formar-se entre eles partidos ou agrupamentos. Cada um expressa as próprias convicções com respeito e liberdade; Paulo vai a Jerusalém para consultar Pedro e, em outra ocasião, não tem receio de fazê-lo notar uma incoerência (cf. Gal 2,14). Isto lhes permite, no final da discussão de Jerusalém, anunciar o resultado à Igreja com as palavras: "Pareceu oportuno ao Espírito Santo e a nós..." (Atos 15, 28).

Foi traçado assim o modelo para toda assembleia da Igreja, com a diferença de que, ali, ela está na fase embrionária, em que ainda não estão claramente delineados os vários ministérios e ainda não se destacou (porque não houve tempo nem necessidade) o primado dado a Pedro, pelo qual cabe a ele fazer a síntese e dar a última palavra.

Mencionei a cúria. Que presente seria para a Igreja se ela fosse um exemplo de fraternidade! Ela já é, pelo menos muito mais do que o mundo e os seus meios de comunicação querem fazer parecer; mas pode ser cada vez mais. A diversidade de opiniões, como já vimos, não deve ser um obstáculo intransponível. Com a ajuda do Espírito Santo, basta recolocar Jesus e o bem da Igreja no centro das próprias intenções todos os dias, e não o triunfo da própria opinião. São João XXIII, na encíclica “Ad Petri cathedram”, de 1959, usou uma frase famosa, de origem incerta, mas de atualidade perene: “In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus vero caritas”: nas coisas necessárias, unidade; nas coisas dúbias, liberdade; e em todas as coisas, caridade.

“Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai a minha alegria, permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros” (Fil 2, 1-4).

São palavras dirigidas por São Paulo aos seus amados fiéis filipenses, mas tenho certeza de que elas exprimem também o desejo do Santo Padre para com os seus colaboradores e para com todos nós.

Encerremos com a oração que a liturgia nos convida a recitar na missa votiva pela paz: “Ó Deus, que chamais todos os vossos filhos de operadores da paz, fazei com que nós, fiéis vossos, trabalhemos incansáveis para promover a justiça que pode garantir uma paz autêntica e duradoura. Por Cristo, nosso Senhor. Amém”.




Tradução em português de Zenit



[1] Monumentum Ancyranum, ed. Th. Mommsen, 1883.

[2] Evangelii gaudium, 218.

[3] S. Gregorio VII, Epistolae, III, 21 (PL 148, 451).

[4] S. Tomas de Aquino, Summa theologica, I-IIae q. 109, a. 1 ad 1
(from Vatican Radio)