quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Igreja recorda Santo Agostinho, homem inquieto em busca da verdade

2014-08-28 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

A Igreja recorda hoje Santo Agostinho, homem inquieto em busca da verdade, filósofo e após Bispo de Hipona. Justamente a sua inquietação foi o traço destacado pelo Papa Francisco no ano passado, ao presidir a Missa de abertura do Capítulo Geral dos Agostinianos na Basílica romana de Santo Agostinho, no ‘Campo Marzio’. O patrologista agostiniano, Padre Pasquale Cormio, explicou à Rádio Vaticano quais foram os frutos amadurecidos a partir das palavras pronunciadas pelo Papa Francisco há um ano:
Pe. Pasquale: “O Papa deixou a todos nós agostinianos uma tarefa, a de aprofundar o tema da inquietude, e a declinou em três modalidades: a inquietude da busca espiritual, a inquietude do encontro com Deus, a inquietude do amor. São três aspectos extrapolados da vida de Agostinho e que ainda hoje são válidos. A inquietude expressa o desejo de felicidade que está no coração do homem. E é o próprio Deus que coloca esta inquietude no coração do homem, para que ele possa mover-se, com o desejo mais do que com os pés, para poder buscar e possuir a verdade, isto é, Jesus Cristo. E como agostinianos nós procuramos nos mover ao longo desta linha que foi traçada justamente pelo nosso Santo Padre: a busca da verdade é busca da felicidade e posse da felicidade, mas a felicidade nós a podemos encontrar na pessoa de Jesus Cristo”.
RV: Agostinho recorda muito a inquietação do homem. Hoje, como aplacar a inquietude moderna?
Pe. Pasquale: “É um caminho. A inquietude para Agostinho é justamente isto: é seguir em frente. E a inquietude é alguma coisa que nos impele, porque num certo sentido, interiormente, nos faz sentir sempre insatisfeitos. É este sentido de insatisfação que nos permite também poder começar uma busca. Para Agostinho, a inquietude é estimulada pela beleza da natureza, da Criação: são traços de sua presença que Deus deixa no mundo. Assim como também, outra forma de inquietude é justamente aquele desejo, aquela busca de verdade, de felicidade, que nós encontramos hoje no coração das pessoas. Talvez, muitas vezes, não são capazes de encontrar aquilo que é o objeto, o significado da felicidade. A busca de Deus parte sempre da busca do homem, e o homem dentro de si encontra os sinais da presença de Deus. Desta forma, esta inquietude é um dom do Senhor, para que o homem possa mover-se justamente na busca de Deus. Podemos dizer assim: a beleza da natureza por um lado, e este sentido de insatisfação ou a busca da felicidade que está no coração do homem por outro, podem ser dois elementos que nos permitam também de aproximar – e muitas vezes assim ocorre – tantos jovens que nem sempre conseguem encontrar um sentido nas suas vidas e acabam, como o Agostinho dos primeiros tempos, por dissipar os dons que o Senhor nos deu. Um primeiro passo para nós é saber reconhecer os dons que o Senhor colocou na nossa vida e por isto louvá-lo”.
RV: Vocês, freis agostinianos, quiseram deixar um sinal visível da visita do Papa Francisco no ano passado, em 28 de agosto: por que este sinal?
Pe. Pasquale: “É seguramente também uma modalidade de agradecimento de nossa parte, pela atenção e a generosidade que o Papa Francisco teve em relação a nós, porque foi ele a nos propor presidir a celebração eucarística que abria o 184º Capítulo Geral da Ordem Agostiniana. Assim, também para recordar esta generosidade, esta atenção do Papa para com os agostinianos, quisemos colocar por escrito, em uma lápide colocada na entrada da Capela de Santa Monica, na Basílica de Santo Agostinho em Campo Marzio, Roma, justamente para deixar também para a posteridade esta memória da presença do Papa em meio a nós”. (JE)

Tem início processo de beatificação de Dom Luciano

2014-08-28 Rádio Vaticana
Mariana (RV)

O processo para reconhecer como beato o ex-Arcebispo de Mariana (MG), Dom Luciano Mendes de Almeida, teve início nesta quarta-feira, 27, durante missa solene na Catedral Metropolitana de Mariana. A data recorda o falecimento de Dom Luciano, em decorrência de falência múltipla de órgãos, em 2006. A celebração, que foi presidida pelo Arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha, marca o começo da fase arquidiocesana do processo, com a sessão de instalação do tribunal eclesiástico que dará início ao procedimento de beatificação, autorizado pela Congregação para a Causa dos Santos em 13 de maio.

“Por parte da Santa Sé, não há nada que impeça, para que se inicie a Causa de Beatificação e Canonização de Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida”, informou a Congregação. Mons. Roberto Natali, vigário judicial, postulador da causa de Dom Luciano, adianta que se trata do início do processo. “Ainda estamos na fase de preparação para a abertura do processo na diocese”, declarou.
Segundo Mons. Natali, “essa primeira fase ocorre na Arquidiocese de Mariana, onde Dom Luciano atuou por 18 anos. A segunda fase, que é decisiva, será em Roma”. Para que o bispo seja beatificado será necessário comprovar, por meio de documentos e depoimentos, que ele levou uma vida virtuosa, por meio da prática cristã como a fé, esperança, amor, prudência, fortaleza, temperança, humildade, pobreza, obediência e castidade. Não há prazo determinado para a conclusão da primeira fase, mas a previsão é que deve demorar.
“Não acredito que o fato dele ser jesuíta, como o Papa Francisco, possa agilizar o processo de beatificação de Dom Luciano que, graças a Deus, está começando agora. Já é um grande passo colocar a vida de Dom Luciano em foco”, afirma o postulador. Caso a documentação seja aprovada em Roma, com um decreto do Papa Francisco, Dom Luciano passa a ser venerável. A partir deste título, se um milagre alcançado por sua intercessão foi provado, o religioso será reconhecido beato. A comprovação de um segundo milagre pode o tornar santo.
Para Mons. Natali, o maior desafio será reunir os casos das pessoas mais humildes, entre eles mendigos e doentes, de quem Dom Luciano costumava cuidar pessoalmente nos hospitais. “Depois de um dia inteiro de trabalho nos afazeres como bispo, ele saía em silêncio e ia a pé socorrer drogados e doentes nos hospitais. São registros que só podem ser encontrados no livro da vida, direto com Deus”, disse o vigário judicial.
Dom Luciano
Nascido no Rio de Janeiro em 5 de outubro de 1930, Dom Luciano tornou-se jesuíta ainda jovem, trabalhando na Companhia de Jesus, dos 17 aos 45 anos de idade, onde obteve destaque no trabalho com detentos nas cadeias em Roma. Foi bispo auxiliar de Dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo, antes de ser nomeado arcebispo de Mariana, em 1988, onde permaneceu até 2006, quando faleceu aos 75 anos. Dom Luciano foi também Secretário geral (de 1979 a 1986) e Presidente por dois mandatos consecutivos (1987 a 1994) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em nota publicada por ocasião de sua morte, a Presidência da CNBB destacou entre as marcas que o religioso deixou na instituição o dinamismo, a inteligência privilegiada, a dedicação incansável e o testemunho de amor à Igreja.
Comenda Dom Luciano
Após a Sessão de Abertura do Processo de Canonização, a Faculdade Arquidiocesana de Mariana promoveu a entrega da Comenda Dom Luciano Mendes de Almeida do Mérito Educacional e de Responsabilidade Social, no Centro Cultural Arquidiocesano. Criada em 2008, a comenda é entregue a personalidades e organizações que, por suas ações afirmativas, cumprem importante papel na área da responsabilidade social. Nesta edição, entre os agraciados está o Bispo de Xingu (PA), Dom Erwin Krätler, reconhecido por sua luta em favor de causas sociais e ambientais na Amazônia. (SP-CNBB)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Dom Sako: o mundo não entendeu a gravidade da situação

2014-08-26 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) 
“Eu visitei os campos de refugiados nas províncias de Erbil e Dohok e o que eu vi e ouvi vai além de qualquer imaginação!”; os cristãos iraquianos e outras minorias no país, receberam “um golpe terrível” no “coração de suas vidas”, privados de todos os direitos, propriedades e até mesmo dos documentos. É quanto afirma o Patriarca caldeu Dom Louis Raphael I Sako, em um apelo - enviado à agência AsiaNews - no qual recorda que, desde 06 de agosto ainda não se encontraram “soluções concretas” para a “crise”, enquanto continua inabalável, “o fluxo de dinheiro , armas e combatentes” para o Estado islâmico.
Sua Beatitude adverte que “diante de uma campanha” para eliminar os cristãos e as minorias do Iraque, o mundo “ainda não entendeu a gravidade da situação”. Ele adverte que “teve início a segunda fase da calamidade”, ou seja, “a migração dessas famílias” para várias partes do mundo, causando “a dissolução da história, do patrimônio e da identidade deste povo”.
O patriarca caldeu e Presidente da Conferência Episcopal iraquiana explica que o fenômeno migratório tem “um grande impacto” seja sobre os cristãos, seja sobre os muçulmanos mesmos, porque “o Iraque está perdendo um componente insubstituível” de sua sociedade. Ele aponta o dedo para a comunidade internacional, em primeiro lugar os Estados Unidos e a União Europeia, que, embora reconhecendo a necessidade de uma solução rápida, não tomaram medidas concretas “para aliviar o destino” de uma população martirizada.
Dom Sako não poupa críticas também à comunidade muçulmana, cujas declarações em mérito aos gestos “bárbaros” das milícias do Estado Islâmico, perpetrados em nome de sua própria religião, não garantiram o respeito e a defesa da dignidade dos cristãos. “O fundamentalismo religioso - adverte o patriarca - continua a crescer em força e poder, resultando em tragédias, enquanto nós, cristãos, nos perguntamos surpresos se os líderes islâmicos e intelectuais muçulmanos entenderam a gravidade do problema”. No Iraque é preciso promover, acrescenta o patriarca, uma cultura do encontro e do respeito, que considere “todos cidadãos com direitos iguais”.
Diante de acontecimentos “terríveis e horríveis”, ele faz votos de uma ação concreta em âmbito internacional para salvar cristãos e yazidis, “componentes autênticos” da sociedade iraquiana que correm perigo de desaparecer. O silêncio e a passividade “vão incentivar os fundamentalistas do Estado Islâmico a cometerem outras tragédias”, adverte o patriarca caldeu, acrescentando a pergunta: “quem será o próximo”?(SP)

Sair de si e peregrinar: o convite do Papa Francisco

2014-08-26 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

Missionariedade: sair de si e peregrinar. Em sua Exortação Apostólica, a Evangelii Gaudium, o Papa Francisco expressa o desejo da Igreja de viver uma profunda renovação missionária.

No documento, ele recorda que ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus. O Papa não só reitera essa vocação de todo cristão, mas mostra concretamente como realizá-la: na rua, na praça, no trabalho, num caminho, ou a pregação informal que se pode acontecer durante uma conversa.
Citando o Documento de Aparecida, Francisco descreve uma característica típica dos fiéis latino-americanos, a religiosidade popular. Trata-se de uma verdadeira «espiritualidade encarnada na cultura dos simples», escreve o Papa. É «uma maneira legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários», afirma. Não se pode julgar, mas amar. E cita alguns exemplo, como a fé firme das mães ao pé da cama do filho doente, que se agarram a um terço ainda que não saibam elencar os artigos do Credo; ou na carga imensa de esperança contida numa vela que se acende, numa casa humilde, para pedir ajuda a Maria, ou nos olhares de profundo amor a Cristo crucificado. Quem ama o povo fiel de Deus, não pode ver estas ações unicamente como uma busca natural da divindade; são a manifestação duma vida teologal animada pela ação do Espírito Santo, que foi derramado em nossos corações.
No Brasil, muitas dioceses procuram promover esse ardor missionário. A Arquidiocese de Porto Velho (RO), por exemplo, acolhe no período de férias, padres, diáconos e seminaristas e leigos de diversas regiões do Brasil para uma missão entre as comunidades. Entrevistado pela colega Cristiane Murray, o Arcebispo Dom Esmeraldo Barreto de Farias conta como os missionários são acolhidos. E ressalta: o Papa está bradando, a Igreja na América Latina está incentivando e é preciso então pôr a mão na massa para os discípulos missionários se tornem uma realidade.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Dom Zenari: tragédia síria caiu no esquecimento

2014-08-25 Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) - Na Síria, estamos testemunhando uma catástrofe humanitária esquecida: a denúncia é da ONU que apresenta dados impressionantes; mais de 191 mil mortes em quase três anos e meio de guerra. A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, fala de uma “paralisia internacional” diante de uma crise que não acaba nunca. A Rádio Vaticano ouviu Dom Mario Zenari, Núncio Apostólico na Síria:
R. - Infelizmente, os refletores sobre a Síria foram desligados. A Síria desapareceu do radar da comunidade internacional. Não é mais notícia a gravidade diária... e a população, é claro, toda, toda! - diz: “Nós, que estamos aqui, temos diante de nossos olhos todos os dias as atrocidades... e não se fala mais sobre isso!”. Todos os dias há uma média de 180 mortes, na Síria: uma cifra que não deveria deixar ninguém tranquilo. Infelizmente, a Síria caiu no esquecimento ...
P. Preocupa o avançamento dos jihadistas do Estado Islâmico?
R. - Esses jihadistas estariam a cerca de 40 quilômetros de Aleppo. Isso preocupa todos. Preocupa não só os cristãos, mas preocupa todos, porque a Síria é um país de maioria muçulmana, porém, é um Islã moderado e os muçulmanos sírios rejeitam esse extremismo; até mesmo aqueles jovens ativistas que vão se somar - falo de sírios - às fileiras desses extremistas do Estado islâmico, geralmente, não vão por convicções ideológicas, mas porque estão frustrados ao ver que os ideais de democracia e liberdade não caminham, que a situação estagnou... Então, vão até eles, porque eles são mais eficientes e também porque às vezes recebem um apoio econômico maior.
P. – Como o senhor explica a difusão deste integralismo islâmico, desta ferocidade que estamos vendo?
R. – Encontra um terreno adequado aqui na Síria, no Iraque, nesta região que está vivendo realmente momentos muito, muito difíceis... A falta de soluções e o conflito que continua, são terrenos férteis para o crescimento desse extremismo. E depois há muitos na Europa que seguem essas utopias de criar uma sociedade utópica, porque faliu a tentativa de reforma e de levar avante Estados mais democráticos, com maior liberdade. E então, surgem essas utopias.
P. - Existe o risco de que mais e mais cristãos deixem o país?
R. - Infelizmente, esta é uma realidade diária. Os patriarcas e bispos aqui continuamente convidam e encorajam os fiéis, os cristãos, para permanecer. Mas em certas condições, quando se trata de risco de vida ou de um futuro muito incerto, se pode também entender essa vontade dos cristãos de tentar, se possível, emigrar para países vizinhos ou para a Europa. Porém, devemos estar atentos: não são apenas os cristãos que estão pensando em emigrar, são as pessoas que se encontram nestas circunstâncias, pessoas que estão sob bombardeios, pessoas que se encontram sob a chuva de morteiros, que perderam o trabalho, que tiveram a casa destruída ... São essas as pessoas que tentam emigrar e encontrar um futuro melhor para sua família.
P. - O Papa continua a acompanhar atentamente a situação na Síria...
R. - Continuamente! Está no coração do Santo Padre a Síria como também o Iraque, a Terra Santa ... em sua mesa de trabalho se encontram informações que chegam sobretudo desses países…
P. – O senhor quer lançar um apelo através dos microfones da Rádio Vaticano?
R. - Acima de tudo eu diria às três religiões monoteístas, que são chamadas a conviver aqui e a difundir a mensagem da paz, eu diria aos fiéis e aos líderes dessas três religiões monoteístas: “redobrem os esforços para encorajar à paz e para rezar pela paz!”. (SP)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"Já não escravos, mas irmãos"

2014-08-21 Rádio Vaticana
“Não mais escravos, mas irmãos”: este é o título da Mensagem para o 48º Dia Mundial da Paz, a segunda do Papa Francisco. Geralmente pensa-se que a escravatura é um facto do passado. Na verdade, esta praga social continua muito presente no mundo de hoje.
A Mensagem para o 1º de Janeiro passado era dedicada à fraternidade: “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”. De facto, uma vez que todos são filhos de Deus, os seres humanos são irmãos e irmãs com uma igual dignidade. A escravatura representa um golpe de morte para uma tal fraternidade universal e, por conseguinte, para a paz. Na verdade, a paz existe quando o ser humano reconhece no outro um irmão ou irmã com a mesma dignidade.
Persistem no mundo múltiplas formas abomináveis de escravatura: o tráfico de seres humanos, o comércio dos migrantes e da prostituição, o trabalho-escravo, a exploração do ser humano por outro ser humano, a mentalidade esclavagista para com as mulheres e as crianças. Há indivíduos e grupos que se aproveitam vergonhosamente desta escravatura, tirando partido dos muitos conflitos desencadeados no mundo, do contexto de crise económica e da corrupção.
A escravatura é uma terrível ferida aberta no corpo da sociedade contemporânea, é uma chaga gravíssima na carne de Cristo! Para a combater eficazmente, há que reconhecer acima de tudo a inviolável dignidade de cada pessoa. Além disso, importa ancorar firmemente esse reconhecimento na fraternidade, que exige a superação de todas as desigualdades, as quais permitem que uma pessoa escravize outra.
É-nos ainda pedido que o nosso agir seja próximo e gratuito para promover a libertação e inclusão para todos. O objectivo a alcançar é a construção de uma civilização fundada sobre a igual dignidade de todos os seres humanos, sem qualquer discriminação. Para isso, é necessário o compromisso da informação, da educação, da cultura em favor de uma sociedade renovada e que se assinale pela liberdade, pela justiça e, logo, pela paz.
O Dia Mundial da Paz resultou da vontade de Paulo VI e é celebrado todos os anos no primeiro dia de Janeiro. A Mensagem do Papa é enviada aos Ministros dos Negócios Estrangeiros de todo o mundo e indica também a linha diplomática da Santa Sé para o ano que se inicia.


As modernas escravaturas serão tema do Dia Mundial da Paz

2014-08-21 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

“Não mais escravos, mas irmãos”. Este é o título da Mensagem para o 48º Dia Mundial da Paz, a segunda escrita pelo Papa Francisco. Na manhã de quinta-feira, 21, o Pontifício Conselho da Justiça e da Paz divulgou o título e a seguinte comunicação:
Julga-se habitualmente que a escravatura seja um fato do passado. No entanto, esta praga social continua muito presente no mundo atual. A Mensagem para o 1º de Janeiro de 2014 era dedicada à fraternidade: “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”. De fato, uma vez que todos são filhos de Deus, os seres humanos são irmãos e irmãs com igual dignidade.
A escravatura representa um golpe de morte para a fraternidade universal e, por conseguinte, para a paz. Na verdade, a paz existe quando o ser humano reconhece no outro um irmão ou irmã com a mesma dignidade.
Persistem no mundo múltiplas formas abomináveis de escravatura: o tráfico de seres humanos, o comércio dos migrantes e da prostituição, o trabalho-escravo, a exploração do ser humano pelo ser humano, a mentalidade escravagista para com as mulheres e as crianças.
Há indivíduos e grupos que se aproveitam vergonhosamente desta escravatura, tirando partido dos muitos conflitos desencadeados no mundo, do contexto de crise econômica e da corrupção.
A escravatura é uma terrível ferida aberta no corpo da sociedade contemporânea, é uma chaga gravíssima na carne de Cristo! Para combatê-la eficazmente, deve-se reconhecer acima de tudo a inviolável dignidade de cada pessoa. Além disso, importa ancorar firmemente esse reconhecimento na fraternidade, que exige a superação de todas as desigualdades, as quais permitem que uma pessoa escravize outra.
É-nos ainda pedido que o nosso agir seja próximo e gratuito para promover a libertação e inclusão para todos. O objetivo a alcançar é a construção de uma civilização fundada sobre a igual dignidade de todos os seres humanos, sem qualquer discriminação. Para isso, é necessário o compromisso da informação, da educação, da cultura em favor de uma sociedade renovada e que se assinale pela liberdade, pela justiça e, logo, pela paz.
O Dia Mundial da Paz resultou da vontade de Paulo VI e é celebrado todos os anos no primeiro dia de janeiro. A Mensagem do Papa é enviada aos Ministros dos Negócios Estrangeiros de todo o mundo e indica também a linha diplomática da Santa Sé para o ano que se inicia.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Temas candentes da atualidade internacional na conferência de imprensa do Papa Francisco no voo de regresso da Coreia

2014-08-19 Rádio Vaticana
O voo do Papa aterrou em Roma, nesta segunda à tarde, pouco antes das 18.00 de regresso da sua terceira viagem apostólica que o levou à Coreia. Logo depois da sua chegada foi à Basílica de Santa Maria Maggiore para levar à imagem de Nossa Senhora um ramo de flores oferecidas uma menina coreana, em Seul, no momento da partida.
No avião o Papa Francisco falou com os jornalistas dos momentos mais importantes desta viagem, das emoções sentidas em vários encontros, mas também da actualidade internacional, do Iraque ao Médio Oriente. A síntese no serviço de de Gabriella Ceraso:
O pensamento ao povo coreano abre e fecha, basicamente, o diálogo articulado em dezasseis perguntas que o Papa teve com os jornalistas, mas foi a actualidade internacional que sobressaiu entre os temas. Antes de tudo o Iraque: a aprovação ou não do bombardeamento americano e uma hipotética viagem do Papa ao país. "Estou disposto a ir", revelou o Papa Francisco, "mas neste momento não é a melhor coisa a fazer", e depois reafirma: "é lícito fazer parar o agressor injusto", fazer parar "não digo bombardear", esclarece e, em seguida, "avaliar os meios com os quais fazê-lo":
Fazer parar o agressor injusto é lícito. Mas devemos também ter memória de quantas vezes, sob esta desculpa de fazer parar o agressor injusto, as potências se apoderaram dos povos e fizeram uma verdadeira guerra de conquista! Uma nação apenas não pode julgar como se faz parar isto, como se faz parar um agressor injusto.
Em seguida, a guerra no Médio Oriente. Inútil, portanto, a oração de junho, com Abu Mazen e Peres, no Vaticano?, perguntam ao Papa. Aquela iniciativa "nascida de homens que acreditam em Deus", "absolutamente não foi um fracasso", responde o Papa: sem oração, não existe negociação nem diálogo, explica o Papa, portanto foi "um passo fundamental de uma atitude humana". "Eu creio que a porta está aberta”:
Agora o fumo das bombas, das guerras não deixam ver a porta, mas a porta ficou aberta a partir daquele momento. E eu creio em Deus, creio que o Senhor olha para aquela porta e aqueles que rezam e pedem para que Ele nos ajude.
As emoções sentidas ao encontrar tantas testemunhas de sofrimento na Coreia são a oportunidade para o Papa falar dos efeitos da guerra. No abraço com as mulheres idosas sobreviventes da deportação no Japão na Segunda Guerra Mundial, o Papa Francisco revela de ter visto a dor de todo o povo coreano, dividido, humilhado, invadido e entretanto forte na sua dignidade. Daqui a advertência ao mundo: "devemos parar e pensar um pouco no nível de crueldade a que chegámos ", e depois as palavras fortes sobre a tortura, usada, diz o Papa, "nos processos judiciários e pela intelligence":
A tortura é um pecado contra a humanidade, é um crime contra a humanidade e aos católicos eu digo: "Torturar uma pessoa é um pecado mortal, é pecado grave!" . Mas é mais: é um pecado contra a humanidade.
Solicitado pelos jornalistas, o pensamento do Papa retorna também à disponibilidade ao diálogo com o povo chinês, que define como “belo, nobre e sábio”. “A Santa Sé mantém abertos os contactos “diz Francisco que revela a vontade de realizar, inclusive imediatamente, uma viagem à China. Há também uma pergunta sobre o processo de beatificação do arcebispo de São Salvador, Monsenhor Óscar Arnulfo Romero, “desbloqueado”, explica o Papa, que exprime o augúrio e que reza, por esse “homem de Deus”, para que tudo “seja esclarecido e se proceda rapidamente”. Em seguida, as habituais perguntas sobre as viagens previstas para o ano de 2015: é segura a passagem por Filadélfia, para o encontro mundial da família, a que se poderia juntar Nova York e Washington. Prováveis também o México e a Espanha. Finalmente as tantas curiosidades dos jornalistas sobre coisas privadas: a vida “normal” que leva em Santa Marta; as férias marcadas por um “ritmo diferente” de vida com mais leitura; mais repouso e mais música e finalmente o relacionamento com Bento XVI, um relacionamento “fraterno” feito de contínuo confronto de opiniões. A escolha que faz hoje um Papa emérito “abriu”, afirma Francisco, uma “porta que é insubstituível, mas não excepcional”:
Porque a nossa vida prolonga-se e a numa certa idade já não temos a capacidade de governar bem, porque o corpo cansa-se…, a saúde pode ser eventualmente boa, mas já sem capacidade de levar para a frente todos os problemas de um governo como o da Igreja. E eu acredito que O Papa Bento XVI fez esse gesto dos Papas eméritos. Repito: eventualmente algum teólogo poderá dizer-me que isso não é justo, mas é assim que eu penso. Os séculos dirão se é assim, ou se não é assim. Vamos ver. Mas o senhor poderia dizer-me: “E se Você um dia sentisse não poder prosseguir? Mas eu faria o mesmo! Faria o mesmo. Rezaria muito, mas faria o mesmo.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Despertem o mundo

2014-08-18 Rádio Vaticana
Maringá (RV)

Neste domingo quero recordar as palavras do Papa Francisco aos religiosos e religiosas do mundo todo, pois hoje recordamos a presença dos mais variados carismas que o Espírito Santo suscitou na Igreja do passado e suscita na Igreja de hoje. Assim dizia o Papa: “Despertem o mundo! Sejam testemunhos de uma forma diferente de fazer as coisas, de agir, de viver! É possível viver neste mundo de forma diferente. Estamos falando de uma perspectiva escatológica, dos valores do Reino aqui encarnados sobre esta terra. Trata-se de deixar todas as coisas para seguir ao Senhor. Não, não quero dizer ‘radical’. A radicalidade evangélica não é apenas para os religiosos: ela é exigida de todos. Porém, os religiosos seguem ao Senhor de forma especial, seguem-no profeticamente. É este testemunho que espero de vocês”.
O Papa Francisco fez este convite: “Deverão ser testemunhas reais de um modo diferente de ser e agir. Mas, na vida, é difícil as coisas sempre serem claras; elas precisas bem delineadas. A vida é complicada, consistindo de graça e pecado. Aquele que não peca não é humano. Todos cometemos erros e precisamos reconhecer nossas fraquezas. Um religioso que se reconhece como fraco e pecador não nega o testemunho ao qual é chamado a dar; pelo contrário, ele a reforça, e isso é bom para todos. O que espero de vocês é, pois, dar testemunho. Quero este testemunho especial por parte dos religiosos”. As palavras do Papa deixam claro que Deus quer contar com pessoas humanas, gente de carne e osso, que apesar dos limites humanos são chamados a dar testemunho de que um mundo novo é possível.
No apostolado dos jovens o Papa Francisco recomendava de forma decisiva: “Aqueles que trabalham com os jovens não podem se contentar em dizer simplesmente coisas engessadas e estruturadas, como num tratado; estas coisas entram por um ouvido e saem pelo outro. Precisamos de uma nova linguagem, de uma nova maneira de dizer as coisas. Hoje Deus nos pede isto: deixar o ninho em que nos encerramos para sermos enviados. O cumprimento do mandamento evangélico “ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16:15), imitar a Jesus, que costumava ir a todas as regiões periféricas. Jesus foi a todas elas, visitou cada uma delas”.
O Papa pergunta: “Qual é a prioridade da vida consagrada?” O papa responde: “A profecia do Reino, ser profetas, e não em brincar de sê-lo. Os religiosos e as religiosas são homens e mulheres que iluminam o futuro. Precisamos recuperar a ternura, incluindo a ternura materna. A ternura ajuda a superar os conflitos. A fraternidade religiosa é uma experiência de amor que vai além dos conflitos. Conflitos comunitários são inevitáveis: de certo modo, eles precisam ocorrer, caso a comunidade esteja verdadeiramente vivendo relações sinceras e honestas. Não faz sentido pensar em uma comunidade na qual haja irmãos que não vivenciam dificuldades em suas vidas. A realidade dita que existam conflitos em todas as famílias e grupos humanos. Uma vida sem conflitos não é vida”.
A todos os religiosos e religiosas que atuam em nossa Arquidiocese, meu agradecimento, e minha prece. Vamos juntos continuar a nossa missão de acordar o mundo, com o nosso testemunho de vida evangélica, dentro dos carismas que Deus derramou em nossos corações. Continuemos firmes na oração suplicante pelas vocações de especial consagração. Queridas famílias vamos perseverar na oração, para que não faltem operários na vinha do Senhor!
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá-PR

Flagelo da desumanização

2014-08-18 Rádio Vaticana
Belo Horizonte (RV)
A sociedade contemporânea é, contraditoriamente, marcada pelos grandes avanços e flagelos. Guerras fratricidas, fome, catástrofes de todo tipo configuram uma lista que desenha cenários preocupantes de avassaladora desumanização. Estas e outras chagas precisam ser duramente enfrentadas com respostas adequadas e mais velozes sob pena de testemunharmos a derrocada das tradições e narrativas, sustentáculos do respeito aos princípios fundamentais que tornam possível a vida humana no planeta. Para enfrentar o flagelo da desumanização, devem ser priorizadas a paixão pela justiça e o gosto pela verdade.
O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica sobre a Alegria do Evangelho, faz preciosa advertência que precisa tocar mais fundo os corações. Ele sublinha a gravíssima responsabilidade de todos, quando se consideram situações que estão produzindo, em velocidade assombrosa, um processo de desumanização. Esse percurso nos leva a uma herança de realidades difíceis de serem revertidas. Trata-se de sentença de morte, pois nenhum progresso material é capaz de superar e recuperar estragos humanitários. São perdas que desfiguram a condição humana, afasta-a de sua identidade e missão próprias.
A era do poder e da informação que caracteriza este tempo inicial do terceiro milênio está produzindo, lamentavelmente, um caminho na contramão da indispensável humanização, único pilar capaz de sustentar a vida nas sociedades contemporâneas. Basta navegar pelo ambiente digital, o domínio determinante e poderoso das redes sociais, para que se chegue a essa constatação. Uma referência comum é o tratamento jocoso e debochado da dor alheia, do luto desrespeitado. Não menos grave é o anonimato covarde na internet para manipular situações e confundir as pessoas sobre a verdade, condição fundamental para o bem.
Este processo crescente de desumanização envenena as relações interpessoais e as interfaces de instâncias da sociedade. Empurra pessoas, grupos, famílias e igrejas para a condição de lobos uns dos outros, com aparência de cordeiros. Vive-se uma realidade em que propaganda enganosa, artimanhas políticas, mentirinhas e outros mecanismos são adotados pela convicção de que os fins justificam os meios. É terrível o nível de hipocrisia e conveniência nas falas, atitudes e apoios, gerando conivências tácitas com o mal, trazendo prejuízos irreparáveis a instituições como a família, igrejas, governos, e a terrível neutralização dos mais pobres e dos indefesos. Hipocrisia que partidariza ao extremo as relações e conduz a atitudes de descarte do outro, ignorando o compromisso interpessoal, ensinado pelo Evangelho, de ajuda ao próximo.
O flagelo da desumanização está alimentando, com perversidade, a formação dos guetos e as consequentes segregações que incapacitam para o diálogo, via única para a urgente construção de relações qualificadas na sociedade contemporânea. As contradições são muitas e tecem um emaranhado inexplicável que obscurece os corações do sentido de amar. O que se faz é por conveniência, sem escrúpulos. Manipulam-se escolhas, juízos equivocados encontram justificativas, sempre.
A sociedade desumanizada opera no submundo dos interesses mesquinhos, do uso das instituições como lugares de satisfação de interesses particulares. Tudo funciona num “faz de conta” que corrói o sentido e a alegria de se viver com liberdade e com autenticidade. Conta sempre o patológico desejo de ser reconhecido como quem tem poder. Assim, a hipocrisia e a arrogância comprometem a humanização da sociedade. Elas passam a nortear decisões determinantes à sobrevivência dos mais pobres, especialmente na área econômica. O crescimento e o equilíbrio da economia mundial e nacional não podem ser perseguidos apenas com os mecanismos matemáticos, nem só pelas esperadas escolhas daqueles que governam e constroem, de modo decisivo, a sociedade plural. Parafraseando o economês, humanismo é um capital determinante para a sustentabilidade da sociedade mundial.
A crise de sentido e de valores se sobressai entre aquelas que ameaçam a humanização. Ela fere um legado básico que, comprometido, produz os cenários aviltantes presenciados pelo mundo. São guerras estarrecedoras, apoiadas por conivências e interesses espúrios, que atentam contra a nobreza da humanidade. Uma realidade que condena os pobres ao isolamento, consequência da incompetência de governos e da insensibilidade daqueles que têm poder para dialogar, encontrar soluções, sem o uso da força policial e sem o comodismo de contentar-se com a segregação.
Transformar esta realidade, contudo, exige mais do que esperar ser convocado para o diálogo. É preciso agir e, no atual contexto, o pleito eleitoral é oportunidade singular. Outras coisas são urgentes, mas urgentíssimo é enfrentarmos, juntos, a tarefa de transformar as causas do devastador flagelo da desumanização.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

sábado, 16 de agosto de 2014

Papa visita de surpresa Universidade dos Jesuítas e fala-lhes do ministério da consolação

2014-08-16 Rádio Vaticana

Ontem, sexta-feira, 15 de agosto, no seu regresso a Seul, após o encontro com os jovens em Daejeon, o Papa Francisco realizou uma visita fora programa à Universidade Católica de Sogang, dirigida pelos Jesuítas. De facto, a Companhia de Jesus fundou em 1960, em Seul, um Colégio, que passou a Universidade dez anos depois. Encontrava-se ali presente o diretor da revista dos jesuítas italianos, "La Civiltà Cattolica", Padre Antonio Spadaro, que contou à Rádio Vaticano o que se passou:O Papa decidiu encontrar os seus confrades jesuítas e nesta mesma quinta-feira comunicou a sua intenção. Foi, portanto, uma coisa absolutamente nova também para os jesuítas, que ficaram desconcertados, porque não sabiam o que preparar, nem como. Na realidade, o encontro foi de uma simplicidade incrível: uma sensação de casa, de família, de normalidade absolutamente grande, forte. - O que é que o Papa disse?
O Papa entrou e foi acolhido, como podem imaginar, com um grande aplauso, e todos se apresentaram. No final todos se apresentaram, mas no início também por tipologia de atividade: os jovens em formação, portanto, os noviços, e depois aqueles que se ocupam do apostolado espiritual, do apostolado juvenil. Foi realmente uma grande festa. O Papa gostou muito deste clima e depois, após algumas poucas palavras introdutórias de saudação, falou. Falou espontaneamente, é claro (sem texto) e foi um discurso simples e intenso, tudo ele centralizado numa palavra – consolação – que para nós Jesuítas é uma palavra fundamental: a consolação espiritual. Disse que somos ministros da consolação, que por vezes na Igreja se experimentam fadigas, feridas, e que algumas vezes o povo sofre feridas também por causa dos ministros da Igreja. E reiterou aquela expressão que usou na entrevista que lhe havia feito da Igreja como "hospital de campanha". Retomou essa expressão e a confirmou. Essa é sua visão da Igreja. Portanto, a tarefa de nós, Jesuítas – mas, diria, em geral, dos ministros do Evangelho, dos sacerdotes, dos religiosos – é a de sermos pessoas de consolação, que dão paz ao povo, que suavizam as feridas. E repetiu isso de vários modos e com acentos muito fortes, muito envolventes.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O Papa se encontra com os jovens asiáticos e com eles reza pela unidade das duas Coreias

2014-08-15 Rádio Vaticana
Salmoe (RV)

Na parte da tarde desta sexta-feira, segundo dia da Viagem Apostólica à Coreia, o Papa Francisco se deslocou, de helicóptero, até o Santuário dos Mártires Coreanos, em Salmoe, que dista 43 km. de Daejeon. Solmoe, situado numa pequena colina de pinheiros, é a cidade natal de Santo André Kim Daejeon, primeiro sacerdote coreano.
Após alguns momentos de oração diante do Santuário, o Bispo de Roma se encontrou com os milhares de jovens, provenientes de 23 países da Ásia, por ocasião da VI Jornada da Juventude Asiática, que tem como tema central Juventude asiática, desperte. A glória dos mártires resplandece sobre você”.
Depois de uma apresentação artística indonésia, por representantes das cinco principais culturas do arquipélago, três jovens de Camboja, Hong Kong e Coreia, apresentaram seus testemunhos pessoais e dirigiram ao Papa algumas perguntas, em nome dos milhares de jovens presentes. A seguir, o Papa Francisco tomou a palavra e, falando em inglês, partiu da expressão de São Pedro, diante da Transfiguração do Senhor no Monte Tabor:
Queridos jovens amigos! É bom estarmos aqui!”… É realmente bom para nós estarmos aqui, juntos, neste Santuário dos Mártires Coreanos, aos quais a glória do Senhor se revelou na aurora da vida da Igreja neste país. Nesta grande assembleia, que reúne jovens cristãos da Ásia inteira, podemos, de certo modo, sentir a glória de Jesus presente no meio de nós, presente na sua Igreja, que abraça toda a nação, língua e povo, presente com a força do seu Espírito, que torna todas as coisas novas, jovens e vivas”.
Dito isto, o Pontífice agradeceu a calorosa recepção dos jovens, seu entusiasmo, os alegres cantos, os testemunhos de fé e as lindas expressões da variedade e riqueza das suas diferentes culturas. O Papa agradeceu, de modo particular, aos três jovens que partilharam suas esperanças, inquietações e preocupações, as quais ele ouviu e meditou com atenção.
A seguir, o Papa Francisco passou a refletir sobre a segunda parte do tema desta VI Jornada Asiática da Juventude: «A glória dos Mártires resplandece sobre vocês». Como o Senhor fez resplandecer a sua glória, mediante o testemunho heróico dos mártires, assim ele deseja que a sua glória resplandeça na vida dos jovens e, por seu intermédio, ilumine a vida deste grande Continente.
Com efeito, disse o Papa aos milhares de jovens presentes, hoje Cristo bate à porta dos seus corações; convida-os a despertar-se, a permanecer bem atentos, a descobrir o que realmente conta na vida. Mais ainda! Ele lhes pede para ir pelas estradas e caminhos do mundo e bater à porta do coração dos outros, convidando-os a recebê-lo na sua vida. E acrescentou:
Este grande encontro dos jovens da Ásia permite-nos vislumbrar o que a própria Igreja é chamada a ser no projeto eterno de Deus. Junto com os jovens de todas as partes, vocês querem se comprometer com a construção de um mundo, onde todos convivem em paz e na amizade, superando as barreiras, recompondo as divisões, rejeitando a violência e os preconceitos. É isto que Deus quer de nós. A Igreja é germe de unidade para toda a família humana. Em Cristo, todas as nações e povos são chamados a uma unidade, que não menospreza a diversidade, mas a reconhece, harmoniza e enriquece”.
E o Papa Bergoglio exclamou: “Como o espírito do mundo está longe desta magnífica visão e deste projeto! Quantas vezes, as sementes de bem e de esperança, que procuramos semear, parecem ser sufocadas pelo egoísmo, a inimizade e a injustiça, não apenas ao nosso redor, mas também nos nossos corações.
Por outro lado, o Santo Padre expressou sua preocupação pela crescente disparidade entre ricos e pobres nas nossas sociedades. Vemos sinais de idolatria da riqueza, do poder e do prazer, que se obtêm com custos altíssimos para a vida humana. Muitos dos nossos amigos e coetâneos, embora circundados de prosperidade material, padecem de uma pobreza espiritual, solidão e desespero silencioso.
Até parece, disse ainda o Pontífice, que Deus foi excluído deste horizonte; é como se um deserto espiritual estivesse se alastrando pelo mundo. Este deserto atinge também os jovens e lhes rouba a esperança e, por vezes, até a própria vida.
No entanto, considerou o Bispo de Roma, este é o mundo no qual vocês, jovens, são chamados a testemunhar o Evangelho da esperança, o Evangelho de Jesus Cristo e a promessa do seu Reino; o Evangelho nos ensina que o Espírito de Jesus pode renovar a vida no coração de todo o homem e transformar qualquer situação, até aquela aparentemente sem esperança.
Esta é a mensagem que vocês são chamados a partilhar entre seus coetâneos. E o Papa frisou:
Queridos jovens amigos, neste nosso tempo, o Senhor conta com vocês! Ele entrou nos seus corações no dia do Batismo; deu-lhes seu Espírito no dia da Crisma; fortalece-os constantemente com a sua presença na Eucaristia, para que vocês possam ser suas testemunhas no mundo. Estejam prontos para dizer «sim» a Ele”.
Neste sentido, o Papa pediu aos milhares de jovens para rezar em silêncio pela unidade das duas Coréias unificação da Península coreana. E, a seguir, deu-lhes três sugestões sobre o modo de serem testemunhas autênticas e jubilosas do Evangelho: primeira, confiar na força que Cristo lhes dá, sem nunca perder a esperança na verdade da sua palavra e na força da sua graça.
Segunda sugestão: permaneçam com o Senhor por meio da oração diária; adorem a Deus; extraiam a alegria e força da Eucaristia e da Penitência; participem da vida das suas paróquias; jamais se esqueçam do Evangelho do amor, da caridade, tomando parte das iniciativas de caridade.
Terceira e última sugestão do Papa aos jovens: entre as tantas luzes contrárias ao Evangelho, seus pensamentos, palavras e ações sejam sempre guiados pela sabedoria da palavra de Cristo e pela força da sua verdade. Ele lhes ensinará a avaliar bem todas as coisas e a conhecer o projeto que ele tem para vocês. Assim, Ele lhes mostrará o caminho para a verdadeira felicidade e a plena realização.
Com estas propostas aos jovens, o Santo Padre deixou o Santuário dos Mártires Coreanos, em Solmoe, e regressou para a Nunciatura Apostólica de Seul, concluindo, assim, seu segundo dia de atividades em terras coreanas. (MT)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O gesto da paz mantém-se depois do Pai-Nosso e antes da comunhão

2014-08-14 Rádio Vaticana
É já oficial: a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, optou por manter, durante a missa, o gesto da paz depois do Pai-Nosso e antes da Comunhão. A mudança do rito da paz para um outro momento da Missa, por exemplo antes do ofertório, tinha sido discutida durante o Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia, em 2005, mas a maioria das Conferências Episcopais consultadas sobre o assunto pronunciou-se contra uma mudança estrutural.
“Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz": a paz é o dom que Cristo Ressuscitado continua a oferecer à sua Igreja reunida para a celebração da Eucaristia. O gesto da paz comporta um grande valor no nosso tempo marcada por numerosos conflitos. Pela sua oração e testemunho, os cristãos têm a missão de acalmar os temores profundos da humanidade e favorecer a instauração de um mundo mais justo e pacíficoRealizado antes do partir do pão, este gesto tem um profundo significado teológico. Mas ele deve ser feito com sobriedade e para não perturbar o sentido sagrado da celebração eucarística. Ora, este gesto causa por vezes uma certa agitação entre os fiéis, mesmo pouco antes da comunhão. As Conferências Episcopais de todo o mundo são, portanto, convidadas a preparar catequeses litúrgicas sobre o significado deste rito, o seu desenvolvimento no quadro da celebração da Missa e sobre o significado cristão da paz.
Será necessário mudar nas novas edições do missal nos países onde foram adotados gestos profanos. Numa uma circular aprovada pelo Papa Francisco, a Congregação dá várias indicações práticas. Ela recorda também que o gesto da paz não é mecânico, que não é obrigatório e que pode ser omitido pelo celebrante. A circular adverte contra a introdução de um canto de paz e pede aos fiéis, bem como ao celebrante, para não se deslocarem para dar a paz.Para a Congregação para o Culto Divino, é essencial não apenas promover uma melhor expressão do sinal de paz, corrigindo os abusos e moderando os excessos que suscitam a confusão na assembleia litúrgica. É também necessário melhorar a sua compreensão.

A bênção do Papa sobre a China



2014-08-14 Rádio Vaticana
Seul (RV)
Pela primeira vez um avião levando um Pontífice pode sobrevoar o espaço aéreo da República Popular da China, graças à autorização de Pequim.
O Papa Francisco enviou um telegrama ao Presidente Xi Jinping: “Entrando no espaço aéreo chinês, expresso os meus melhores votos à sua excelência e a todos os seus cidadãos e invoco a bênção divina de paz e bem-estar sobre a nação”.O Pontífice também enviou telegramas de saudação aos presidentes dos outros países sobrevoados na viagem à Coreia: Itália, Croácia, Eslovênia, Áustria, Eslováquia, Polônia, Belarus, Rússia e Mongólia.
(JE)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Santa Sé pede que autoridades, sobretudo muçulmanas, condenem barbáries no Iraque

2014-08-12 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV)

O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso divulgou uma mensagem nesta terça-feira, 12, sobre as violências perpetradas contra as minorias no Iraque e a restauração do autodenominado 'califado'. Eis a íntegra da mensagem:
“O mundo inteiro testemunhou incrédulo ao que agora é chamado de “Restauração do Califado”, este que foi abolido em 29 de outubro de 1923 por Kamal Araturk, fundador da Turquia moderna. A oposição a esta “restauração” pela maioria dos institutos religiosos e políticos muçulmanos não impediu que os jihadistas do “Estado Islâmico” cometessem e continuem a cometer indizíveis atos criminais.
Este Conselho Pontíficio, junto a todos aqueles engajados no diálogo inter-religioso, seguidores de todas as religiões e todos os homens e mulheres de boa vontade, pode somente denunciar e condenar, de forma inequívoca, esses atos que trazem tanta vergonha à humanidade:
- o massacre de pessoas somente pela sua fé e condição religiosa;
- a desprezível prática da decapitação, crucificação e exposição de corpos em lugares públicos; - a escolha forçada imposta aos Cristãos e Yezidis entre a conversão ao Islã, o pagamento de um tributo (jizya) ou o exílio forçado;
- a expulsão forçada de milhares de pessoas, incluindo crianças, idosos, mulheres grávidas e doentes; - o rapto de meninas e mulheres pertencentes às comunidades Yezidi e Cristã como despojos de guerra (sabaya);
- a imposição da prática bárbara da infibulação; - a destruição dos lugares de fé e túmulos cristãos e muçulmanos;
- a ocupação forçada ou dessacralização de igrejas e monastérios; - a remoção de crucifixos e outros símbolos cristãos assim como aqueles de outras comunidades religiosas;
- a destruição de uma inestimável herança cultural e religiosa cristã; - violência indiscriminada com o objetivo de aterrorizar as pessoas para que estas entreguem-se ou fujam;
Nenhuma causa e, certamente, nenhuma religião, pode justificar tamanha barbárie. Isso constitui uma ofensa extremamente séria à humanidade e a Deus, como recorda frequentemente o Papa Francisco. Não podemos esquecer, todavia, que cristãos e muçulmanos conviveram em harmonia – é verdade que com altos e baixos – durante séculos, construindo a cultura pacífica da coexistência e civilização das quais têm muito orgulho. Por outro lado, é com base nisto que, em anos recentes, o diálogo entre cristãos e muçulmanos teve continuidade e intensificou-se.
A situação dramática de cristãos, yezidis e outras comunidades religiosas e minorias étnicas no Iraque requer uma posição clara e corajosa dos líderes religiosos, especialmente muçulmanos, assim como daqueles engajados no diálogo inter-religioso e todas as pessoas de boa vontade. Todos devem ser unânimes em condenar inequivocamente estes crimes e em denunciar o uso da religião para justificá-los. Caso contrário, qual credibilidade terão as religiões, seus seguidores e seus líderes? Qual credibilidade tem o diálogo inter-religioso que, pacientemente, buscamos continuar ao longo destes anos?
Líderes religiosos também são exortados a usar sua influência junto às autoridades para colocar fim a estes crimes, para punir os responsáveis e para reestabelecer as regras da lei em todo o país, assegurando o retorno à casa daqueles que foram deslocados. Enquanto recordam a necessidade de uma direção ética das sociedades humanas, estes mesmos líderes religiosos não devem falhar ao demonstrar que o apoio, o financiamento e o armamento do terrorismo é moralmente repreensível.
Dito isto, o Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso agradece todos que já levantaram suas vozes para denunciar o terrorismo, especialmente contra aqueles que usam a religião para justificá-lo.
Queremos, assim, unir nossa voz àquela do Papa Francisco: “Possa o Deus da paz despertar em cada um de nós o genuíno desejo para o diálogo e a reconciliação. Violência não se vence com violência. Violência se vence com a paz”.